Título: Demóstenes era braço político da organização
Autor: Braga, Isabel; Celso Pereira, Paulo
Fonte: O Globo, 09/05/2012, O País, p. 3

BRASÍLIA. O delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Marques Souza apontou ontem, em depoimento à CPI do Cachoeira, os indícios de como o senador Demóstenes Torres (Sem partido-GO) colocou o mandato a serviço do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Da mesma forma que fez no relatório final da Operação Vegas, o delegado reafirmou o envolvimento dos deputados Carlos Leréia (PSDB-GO) e João Sandes Júnior (PP-GO) com o bicheiro.

Ao responder perguntas dos parlamentares sobre o caso, o delegado pôs em xeque a atuação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. O procurador recebeu o relatório da Vegas em 15 de setembro de 2009 e nada fez. Gurgel só pediu abertura de inquérito contra Demóstenes no Supremo Tribunal Federal (STF) em 27 de março deste ano, cinco dias depois de O GLOBO revelar o conteúdo das ligações entre o senador e Cachoeira. As declarações do delegado surpreenderam os parlamentares e devem redefinir os rumos da CPI.

- Estou convencido: o senador Demóstenes Torres era o braço político da organização. Estou mais convencido do envolvimento do senador. Estou mais convencido ainda do envolvimento dos deputados Sandes Júnior e Leréia. Me parece que não resta dúvida alguma do envolvimento deles - afirmou o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), depois de ouvir a explanação do delegado.

Durante a operação Vegas, foram gravadas mais de mil horas de conversas de Cachoeira com Demóstenes e outros supostos integrantes da organização do bicheiro.

- O delegado confirmou as ligações do senador com Cachoeira, que são cada vez mais claras - disse o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).

O clima esquentou quando o delegado, ao responder perguntas dos parlamentares, disse que a investigação foi engavetada pelo procurador-geral Roberto Gurgel. O delegado disse que o relatório da Operação Vegas foi enviado ao procurador-geral, a quem caberia encaminhá-lo ao STF. O documento foi entregue à subprocuradora-geral Cláudia Sampaio em 15 de setembro de 2009. Um mês depois, a subprocuradora, mulher de Gurgel, chamou o delegado e disse que a investigação não tinha indícios suficientes para abrir inquérito contra parlamentares. A partir daí, o caso seria arquivado ou devolvido à Justiça Federal de Goiás, de onde se originou, para reinício da apuração.

- Ele disse que ela (Cláudia Sampaio) não fez uma coisa nem outra - contou Onix Lorenzoni (DEM-RS).

Assim como a subprocuradora, Gurgel tem afirmado que, por estratégia, não abriu inquérito porque os elementos não eram suficientes e preferiu resguardar a informação enquanto aguardava novos resultados. Lorenzoni, que não via com bons olhos a convocação de Gurgel, entende que seria importante chamar a subprocuradora. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) disse:

- Não tem como não trazer o procurador-geral para explicar as razões da demora de abrir o inquérito.

Parte dos integrantes da CPI tentou que fazer uma sessão aberta. Prevaleceu a decisão de fazer sessão fechada.