Título: Dólar sobe 1,24% e se aproxima de R$ 2 com Europa e saída de recursos
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 10/05/2012, Economia, p. 30

Com o cenário externo piorando diante do impasse político na Grécia e da piora do quadro de crise de endividamento na Espanha, o dólar comercial não para de subir e atingiu ontem R$ 1,963, alta de 1,24%. É a maior valorização diária do dólar em dois meses e o maior patamar desde 14 de julho de 2009. A mudança de tendência já se reflete nas trocas de recursos do Brasil com o exterior: o fluxo cambial ficou negativo em US$ 1,787 bilhão na primeira semana do mês, após registrar entrada de US$ 6,588 em abril, divulgou ontem o Banco Central (BC). Com isso, a cotação média do dólar turismo, para pessoas físicas, ficou em R$ 2,07 no Rio ontem. No ano, alta já chega a 5%.

Segundo analistas do mercado, a intervenção do governo no câmbio a partir de março - com a elevação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre empréstimos no exterior e a ação do BC, comprando dólar no mercado à vista - e a perspectiva de uma taxa básica de juros (Selic, hoje em 9%) mais baixa mudaram o patamar das cotações. Agora, com o cenário externo piorando, a alta se mantém e abre espaço para a especulação com taxas mais elevadas no mercado futuro de câmbio.

BC pode mudar estratégia se cotação passar de R$ 2

O pessimismo de ontem fez o dólar se valorizar no mundo todo. O real, o peso do México e o rand da África do Sul foram as moedas que mais perderam. O euro recuou 0,59% frente ao dólar, para US$ 1,2937.

- O mercado está mais sensível à alta e mantém-se no patamar de R$ 1,90 mesmo sem o BC - diz José Carlos Amado, operador da corretora Renascença.- Com o dólar mais próximo de R$ 2, especialistas creem na superação desse nível em breve. A questão agora é se - e quando - o BC mudará de estratégia e passará a vender dólares.

No mercado futuro de câmbio, há espaço para especulação na alta e pouca vontade de apostar na queda do dólar. Em julho do ano passado, o governo introduziu a cobrança de 1% de IOF sobre as posições vendidas, ou seja, que apostam na queda do dólar, acima de US$ 10 milhões. O objetivo era conter apostas especulativas na queda do dólar, que naquele mês chegou ao menor nível desde 1999.

Segundo especialistas, porém, isso deixou o mercado desequilibrado. Amado, da Renascença, destaca que, com o cenário externo negativo, investidores que ainda apostavam na queda estão mudando a estratégia nos últimos dias, passando a apostar na alta do dólar.

- Quem trabalhava "vendido" agora muda de lado - afirma o gerente de câmbio da corretora Icap Brasil, Ítalo Abucater dos Santos, que já espera uma mudança na atuação do BC, no mercado futuro.