Título: Bolsas voltam a cair por impasse na Grécia
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Fonte: O Globo, 10/05/2012, Editoria, p. 34

ATENAS, LONDRES e NOVA YORK. As bolsas de valores globais voltaram a sofrer ontem com a incerteza política na Grécia, onde uma nova eleição parece cada vez mais provável. A Coalizão da Esquerda Radical (Syriza) não conseguiu apoio dos outros partidos para formar um governo, e agora a tarefa cabe aos socialistas do Pasok. As quedas dos mercados não foram maiores porque o conselho do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef) concordou em liberar uma parcela de 5,2 bilhões do pacote de socorro à Grécia, para que o governo honre suas necessidades de financiamento a curto prazo.

Desse total, 4,2 bilhões serão pagos hoje, e o restante "dependerá das necessidades de financiamento da Grécia", informou a entidade em comunicado. Se o governo não recebesse recursos, não teria como pagar salários e um vencimento de bônus de 435 milhões no próximo dia 15.

Merkel diz que Grécia precisa cumprir acordo

Na Europa, apenas Frankfurt fechou em alta, de 0,47%, graças ao recorde das exportações em março. Londres recuou 0,44%, Paris, 0,20%, e Milão, 1,18%. Atenas caiu 0,86%. Madri registrou queda de 2,77%, com os papéis de bancos caindo até mais de 5%.

Em Nova York, o índice Dow Jones fechou com baixa de 0,75%, a sexta consecutiva. Nasdaq e S&P recuaram 0,39% e 0,67%, respectivamente. O euro recuou 0,6% frente ao dólar, para US$ 1,2929.

Os preços do petróleo também foram afetados. Em Nova York, o barril para entrega em junho recuou 0,21%, para US$ 96,81. Já o Brent, negociado em Londres, depois de atingir a mínima de US$ 111,31, fechou em alta de 0,41%, a US$ 113,20.

A Bolsa de Tóquio caiu 1,49%, enquanto Cingapura recuou 1% e Xangai, 1,65%.

Apesar dos temores sobre o futuro da Grécia, a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou ontem que quer que o país permaneça na zona do euro, mas para isso precisa cumprir os termos do pacote de ajuda acertado com União Europeia (UE), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE), informou o jornal "Passauer Neue Presse". "Só assim podemos imaginar o retorno da Grécia à estabilidade e ao fortalecimento econômico", afirmou Merkel.

Itália reforça apelo por revisão nos ajustes fiscais

Portugal e Espanha, por sua vez - ambos fortemente afetados pela crise europeia - fizeram um apelo ontem para que a Grécia se atenha ao programa de resgate e permaneça na zona do euro. Os governos dos dois países ainda prometeram não poupar esforços para reduzir seus déficits orçamentários.

- Eu espero que a Grécia fique na União Europeia e continue parte do projeto do euro - disse o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, após se reunir com o premier português, Pedro Passos Coelho.

O encontro de ambos, na cidade do Porto, visava a aumentar a cooperação entre as nações ibéricas, mas foi dominado pela crise da zona do euro e pelo debate austeridade versus crescimento. Passos Coelho ressaltou que "não há crescimento econômico sem consolidação orçamentária".

- Gostaria de ver a Grécia continuar com as reformas e tomar decisões que são custosas, como sabemos, mas que no fim vão melhorar o bem-estar e a riqueza de todos os cidadãos - disse Rajoy.

Reforçando o debate entre austeridade e crescimento, o premier italiano, Mario Monti, conclamou ontem a Europa a ultrapassar o rígido enfoque sobre disciplina fiscal demandado por Berlim. Ele repetiu seu apelo para que a Alemanha faça ajustes nas normas fiscais que permitam aos governos investir mais. Ele admitiu, porém, que há muito a fazer para vencer as objeções da Alemanha, que, afirmou, vê o crescimento como a recompensa de uma política virtuosa.