Título: Dólar volta a R$ 1,90
Autor: Neder, Vinicius; Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 01/05/2012, Economia, p. 17

Moeda fecha no maior patamar desde 2009. No mês, acumula alta de 4,4%, com compras pesadas do BC

Pela primeira vez desde julho de 2009, o dólar comercial voltou à casa de R$ 1,90: ontem, subiu 1,06% e fechou a R$ 1,907. Com isso, a moeda encerrou abril com alta acumulada de 4,44%, a segunda valorização mensal consecutiva, desde que o cenário externo e a ação do governo inverteram a tendência de baixa de janeiro e fevereiro. Desde o início do ano, o Banco Central (BC) vem jogando pesado, comprando US$ 18 bilhões. O real foi a moeda que mais perdeu para o dólar em abril no mundo. No ano, o avanço chega a 2,03%. O dólar turismo, por sua vez, encostou em R$ 2, cotado a R$ 1,99 no Rio.

Segundo analistas, o movimento tende a continuar em maio. A queda em janeiro e fevereiro aconteceu porque os mercados internacionais viviam um momento de otimismo em relação à crise e por causa da expectativa de entrada de recursos após captações externas de grandes empresas. Injeções de liquidez por parte dos bancos centrais dos EUA (Fed) e Europeu (BCE) reacenderam o que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, batizou de "guerra cambial". A moeda chegou à mínima do ano em 28 de fevereiro, cotada a R$ 1,699.

No entanto, tudo mudou em março. Preocupado com os efeitos da baixa do dólar sobre a indústria, o governo começou a adotar medidas no câmbio, sobretudo com o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre empréstimos no exterior. Enquanto isso, o BC passou a comprar os dólares que entravam, gerando a expectativa de que enxugaria os recursos trazidos pelas empresas.

Paralelamente, o cenário externo piorou a partir de março. A crise na Europa voltou ao radar, principalmente por causa da Espanha, e o crescimento econômico dos Estados Unidos e da China deu sinais de desaceleração. Desde a mínima, o dólar comercial subiu 12,24%.

- A ideia de crise lá fora está voltando e o BC continuou comprando dólar no mercado - diz Alfredo Barbutti, economista da BGC Liquidez.

Nas estimativas da BGC Liquidez, o BC tirou US$ 18 bilhões do mercado de câmbio à vista - US$ 16,411 bilhões foram confirmados pelos dados de fluxo cambial divulgados semanalmente pelo BC . A corretora calcula que, só na semana passada, as compras foram de US$ 1,667 bilhão.

Medidas do governo afastam investidores

Para Jorge Knauer, diretor de Tesouraria do Banco Prosper, a intervenção do governo no mercado a partir de março seguiu tendo impactos mês passado. Tanto os aumentos no IOF sobre empréstimos externos quanto as compras do BC reduzem a atuação de investidores que especulam na queda do dólar.

- As ações afastaram o investidor que vendia dólar - afirma Knauer, referindo-se principalmente aos fundos que tomam empréstimos baratos nos mercados desenvolvidos para investir nos juros mais elevados do Brasil.

No mercado de ações, o Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), avançou ontem 0,21%, aos 61.820 pontos. Em um pregão morno, espremido pelo feriado do Dia do Trabalho, o volume de negócios foi de R$ 4,8 bilhões, abaixo da média de R$ 7 bilhões deste ano. No início da manhã, o índice chegou a recuar 0,75%, acompanhando o movimento dos mercados internacionais.

Em Wall Street, o Dow Jones recuou 0,11% e o Nasdaq, 0,74%, afetados pela recessão da Espanha e pela queda no índice de gerentes de compras de Chicago. Na Europa, fecharam em baixa as Bolsas de Paris (1,64%), Londres (0,68%) e Frankfurt (0,59%).