Título: BNDES nega ingerência política
Autor: Beck, Marcio
Fonte: O Globo, 11/05/2012, O País, p. 3

Banco diz que decisão de compra da Delta partiu da família controladora da J&F

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) informou ontem, por meio de nota, que a compra da Delta Construções pelo grupo J&F não depende da concordância do banco, e que não foi consultado sobre a operação. A instituição negou que tenha havido qualquer ingerência política nos processos. "(O BNDES) Repudia, portanto, qualquer ilação de caráter político relacionada à sua presença como acionista da JBS. No caso em tela, o banco vai zelar para que seus interesses e dos demais acionistas que adquiriram papéis da JBS no mercado sejam preservados", afirma a nota.

De acordo com o BNDES, a iniciativa do negócio partiu exclusivamente da holding da família controladora e é uma "decisão privada de natureza empresarial". "Caso seja concretizada a venda, o BNDES não se tornará sócio da construtora, já que é acionista apenas da JBS, empresa do setor de proteína animal", explica a instituição. O banco argumenta que considera a cadeia produtiva de carnes (proteína animal) importante para o país, dada a grande competitividade do Brasil no ramo, e por isso tem apoiado empresas do setor.

A assessoria de imprensa da J&F Holding negou que tenha sido feito um pedido de autorização ao governo federal para a costura do acordo - agentes envolvidos na negociação. Segundo ela, por se tratar de uma operação entre duas empresas do setor privado, não há necessidade de aval do Palácio do Planalto.

A JBS, frigorífico do qual o BNDES possui quase um terço das ações, é o principal empreendimento do J&F, com cerca de R$ 45 bilhões em ativos, de acordo com informações do Banco Original, braço financeiro da holding. A participação do banco de fomento no negócio se deu por meio da aquisição de debêntures em operações iniciadas em 2007, que somam R$ 8,1 bilhões e foram trocados por ações da empresa. Somado aos empréstimos diretos feitos ao JBS e ao Bertin - frigorífico que foi incorporado pelo grupo em setembro de 2009 -, o total chega a R$ 13,3 bilhões, segundo noticiou ontem a colunista do GLOBO Míriam Leitão.

As três operações com o JBS tiveram como objetivo apoiar a empresa na compra de concorrentes americanas. A primeira, de R$ 1,1 bilhão, para a aquisição da Swift&Co, nos Estados Unidos. No ano seguinte, a JBS adquiriu, com mais R$ 1 bilhão do BNDES, a National Beef Packing e a Smithfield Beef Group, e no ano passado, a Pilgrim"s Pride, mais R$ 3,5 bilhões. Em 2008, o Bertin recebeu R$ 2,5 bilhões para seu plano de negócios. Em junho de 2011, o banco aprovou financiamento de R$ 2,7 bilhões para a Eldorado Celulose, também pertencente ao J&F, construir uma fábrica no Mato Grosso.