Título: Delegado da PF complica situação de Perillo
Autor: Carvalho, Jailton de; Souza, André de
Fonte: O Globo, 11/05/2012, O País, p. 12

Em depoimento à CPI, coordenador da Operação Monte Carlo reforça proximidade do governador de Goiás com Cachoeira

LIGAÇÕES PERIGOSAS

O delegado da Polícia Federal Matheus Mella Rodrigues, coordenador da Operação Monte Carlo, complicou a situação do governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB). Em depoimento aos integrantes da CPI Mista do Cachoeira, o delegado relatou que a casa do governador Marconi Perillo, em um luxuoso condomínio de Goiânia, foi vendida, por meio de um intermediário, para Carlinhos Cachoeira. O policial afirmou que há "indícios veementes" de que o bicheiro teria adquirido formalmente a casa, e uma pessoa ligada ao contraventor teria dado os cheques para pagar o imóvel.

- Ficou claro que alguns cheques foram emitidos em nome do governador por Leonardo Ramos, que seria filho de Marcos Augusto Ramos, que seria irmão mais velho do senhor Carlos Cachoeira - disse o delegado.

O coordenador da Monte Carlo disse ainda que as investigações mostraram que o grupo de Cachoeira, por meio do ex-diretor da Delta Cláudio Abreu, teria pago propina ao ex-chefe de gabinete de Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal.

- (Há) indicativos de suposto pagamento mensal de propina ao (ex) secretário Cláudio Monteiro - completou.

O delegado informou que o nome do governador goiano aparece nada menos que 270 vezes nas conversas da organização do bicheiro. Foram registradas também duas conversas telefônicas e dois encontros entre Cachoeira e Marconi. Um dos encontros foi na casa de Demóstenes. O outro aconteceu na residência do ex-diretor do Detran local Edivaldo Cardoso.

A polícia também acompanhou, por interceptação telefônica, entrega de dinheiro no Palácio das Esmeraldas, sede do governo goiano. Até o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) se surpreendeu com o grau de proximidade de Marconi com Cachoeira.

- Não tem como o Marconi não vir à CPI e não ser indiciado. Ele e Agnelo Queiroz - afirmou o deputado.

O delegado afirmou que existem 3.753 gravações com referência a vínculos de políticos com Cachoeira. Entre os políticos ligados ao bicheiro, o delegado citou o governador de Goiás, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e o deputado Carlos Leréia (PSDB-GO).

A pedido dos parlamentares, o delegado leu uma lista com os nomes de 82 pessoas, a maioria delas autoridades, que tiveram os nomes mencionados nas gravações. Entre os nomes citados, estão o da presidente Dilma Rousseff, do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Luiz Fux.

Chefe de gabinete de Agnelo teria recebido propina

Segundo parlamentares da comissão, as citações aparecem em comentários de integrantes da organização e, em boa parte dos casos, não há indicação de qualquer vínculo com Cachoeira. O nome de Dilma, por exemplo, aparece quando Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta, diz que presidente iria demitir funcionários do DNIT acusados de corrupção. Aécio Neves aparece numa conversa em que Demóstenes pede emprego para uma parente de Cachoeira. Gilmar Mendes é citado quando Demóstenes e Cachoeira discutem sobre um processo de interesse da organização relacionado ao governo de Goiás que estava em tramitação no STF.

O delegado também detalhou o envolvimento da organização com setores do governo Agnelo Queiroz (PT). Cachoeira deu dinheiro ao ex-chefe de gabinete de Agnelo, Cláudio Monteiro, indicou dirigentes para o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) e até tentou, aparentemente sem sucesso, um encontro com o governador.

Para o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), as situações são diferentes.

- Há relações (da organização de Cachoeira) nos governos de Goiás e do Distrito Federal, mas mais intensamente no governo de Goiás. Há necessidade de o governador (Marconi Perillo) vir à CPI - afirmou Randolfe, que também quer a convocação de Agnelo Queiroz.

O delegado apresentou detalhes das fortes ligações entre Cachoeira e a Delta, a sexta maior empreiteira do país. A polícia descobriu vários pagamentos da Delta para empresas de Cachoeira que estariam em nomes de laranjas. O delegado afirmou que a empreiteira será alvo do primeiro inquérito na próxima fase da Operação Monte Carlo.

Pelas contas da polícia, Cachoeira controlava sete casas de jogos e cada uma delas renderia entre R$ 1,2 milhão a R$ 1,6 milhão por mês. Cachoeira ficaria com 30% do faturamento do jogo ilegal.

Declarações do senador Randolfe sobre Marconi Perillo provocaram a irritação do deputado Silvio Costa. Ele apresentou versão diferente para os relatos do delegado sobre Marconi Perillo.

- O delegado disse que Demóstenes estava com Marconi, passou o telefone para o governador e disse que era aniversário de Cachoeira. E Marconi deu parabéns - disse o deputado.

- Não foi isso o que eu ouvi - respondeu Randolfe.

- Então você precisa botar remédio no ouvido - contra-atacou Silvio Costa.

Em nota, Marconi Perillo afirmou que "jamais admitiu ou permitiu qualquer tentativa de influência dos investigados" e que "tomou todas as medidas necessárias para coibir quaisquer tentativas nesse sentido". Ele lembrou que afastou auxiliares e servidores citados na investigação e determinou auditagem nos contratos firmados com a Delta. Segundo o governador, o depoimento do delegado não trouxe nenhum fato novo e as menções ao nome dele não podem servir para tirar conclusões precipitadas.