Título: Dilma decide mudar o comando da Previ
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 11/05/2012, Economia, p. 38
Presidente demitirá presidente do fundo e vice do BB. César Borges, do PR, deve ir para o banco, para acalmar a base
A presidente Dilma Rousseff decidiu dar um basta à disputa de poder entre a cúpula do Banco do Brasil (BB) e a da Previ, o fundo de pensão dos funcionários da instituição. A saída encontrada foi determinar a demissão do presidente do fundo, Ricardo Flores, e do vice-presidente da área de governo do BB, Ricardo Oliveira. Segundo avaliação do Palácio do Planalto e da equipe econômica, os dois continuaram conspirando nos bastidores do poder, mesmo após determinação de Dilma para encerrar a disputa. O comando da Previ deve ir para um dos vice-presidentes do BB e o cargo de Oliveira deve ser ocupado pelo ex-governador e ex-senador baiano César Borges, do PR, para acalmar a base aliada.
Já o presidente da instituição, Aldemir Bendine, permanecerá no cargo, porque, na avaliação do Palácio do Planalto, seguiu à risca a recomendação da presidente de não colocar mais combustível na disputa com a Previ e está fazendo o dever de casa na batalha do governo para reduzir os juros. Depois de uma enxurrada de notícias negativas que chegaram a ameaçar sua permanência no cargo, Dilma mandou Bendine não dar entrevistas, mesmo as relacionadas à queda dos juros, para preservá-lo.
O mais cotado para assumir a Previ é o vice-presidente de Finanças do BB, Ivan Monteiro. Entretanto, há outros dois nomes na mesa da presidente: Alexandre Abreu, vice-presidente de Varejo, cresceu bastante no conceito de Dilma porque formulou o programa "Bom pra todos", que reduziu os juros. O outro candidato é Danilo Angst, vice-presidente que cuida da área de crédito e risco.
Presidente quer blindar o banco e evitar desgastes
O poderoso vice-presidente de Atacado, Rogério Caffarelli, apesar de bem articulado no governo, foi descartado por causa das denúncias de favorecimento à filha do ministro da Fazenda, Marina Mantega, no ano passado. Dilma quer blindar o banco em relação a outros escândalos e evitar o desgaste da instituição.
A cadeira de Ricardo Oliveira foi oferecida ao PR, que indicou o ex-governador e ex-senador baiano César Borges. Em fevereiro, o cargo já havia sido oferecido ao partido pela ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, quando negociava a participação do PR no governo, após a mudança no Ministério dos Transportes. Na época, o partido recusou a oferta.
Os aliados do PR e o PT da Bahia já foram avisados da intenção da presidente Dilma Rousseff de indicar o ex-senador César Borges para assumir o cargo de Ricardo Oliveira no BB. Da Itália, o governador da Bahia, Jaques Wagner, fez questão de ligar para alguns parlamentares e avisar que não tinha restrições ao nome de César Borges. Da última vez que o nome do ex-senador foi incluído na lista para assumir um ministério, atribuiu-se a Wagner a reação à indicação.
Com as alterações no BB e na Previ, a presidente Dilma quer pôr um ponto final na disputa que resultou na demissão do então vice-presidente de Atacado, Negócios Internacionais e Privite Banking, Allan Toledo, em dezembro passado e continuava nos bastidores. Segundo fontes de governo, o presidente do conselho da instituição e secretário-executivo do ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, recebeu uma mensagem que narrava detalhes do que estaria acontecendo dentro da instituição. As informações eram de que havia uma guerra de dossiês e espionagem entre os executivos do banco. Para resolver o problema, Dilma decidiu demitir os personagens identificados como protagonistas dos dois lados da disputa.
- Não há nenhum santo nessa história - afirmou um interlocutor da presidente.
No mês passado, o conselho do BB aprovou uma auditoria que sepultou o processo de quebra de sigilo bancário de Allan Toledo. E concluiu que não há provas de qualquer acesso indevido à conta do ex-funcionário. A Polícia Federal investiga o caso. Toledo concluiu que seu sigilo fora quebrado depois da divulgação de dados de sua movimentação bancária. Ele recebeu depósitos que somavam quase R$ 1 milhão da sua mãe adotiva. Segundo a explicação do ex-dirigente, ela teria vendido uma casa ao empresário Wanderley Mantovani, sócio do frigorífico Mafrig, cliente do Banco do Brasil. A operação gerou suspeitas de tráfico de influências.
A investigação para apurar a suposta quebra de sigilo de Toledo foi comandada pelo diretor de Segurança do BB, Marcos Ricardo Lot, ligado ao vice-presidente Ricardo Oliveira. Nos corredores do BB e nos bastidores do Palácio do Planalto, essa proximidade levantou suspeitas sobre o vazamento de informações sigilosas do grupo liderado pelo presidente da Previ, Ricardo Flores, desafeto de Oliveira.
A guerra entre a cúpula do BB e da Previ começou há alguns anos com um acordo entre Bendine e seu então vice-presidente Ricardo Flores. O pacto era para uma troca futura de cargos: Bendine assumiria a presidência da Previ e faria Flores seu sucessor no BB. O vice ganhou projeção em 2009, quando idealizou várias medidas para combater a crise financeira. Como prêmio, Flores ganhou a presidência da Previ e a inimizade de Bendine e de Oliveira.
(Colaborou Cristiane Jungblut )