Título: Os desafios para o Brasil além do câmbio
Autor: Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 13/05/2012, Economia, p. 33

O real valorizado não é o único fator que limita a competitividade da indústria brasileira, que sofre com restrições como elevada carga tributária, infraestrutura precária, alto custo da energia e das telecomunicações, baixo nível educacional e de investimento em pesquisa e desenvolvimento. A conclusão é do estudo "Competitividade e Desempenho Industrial: mais que só o câmbio", de Regis Bonelli e Armando Castelar Pinheiro, da Fundação Getulio Vargas (FGV), que será apresentado na terça-feira no XXIV Fórum Nacional, organizado pelo ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso.

- É um erro pensar que se o país tivesse um câmbio competitivo a questão da competitividade da indústria brasileira estaria solucionada. O câmbio está fora do lugar, mas não é só o câmbio que limita o avanço da indústria - afirma Bonelli.

O estudo, uma análise feita entre 1999 e 2011, mostra um crescimento anual de 4,1% do Custo Unitário do Trabalho (CUT), indicador usado para avaliar a competitividade-custo de uma atividade. O comportamento foi distinto nesse período. Houve uma queda entre 1998 e 2004 e alta no período posterior. Considerando o período entre 1999 e o ano passado, o desempenho do CUT é resultado de aumento de 4,9% da remuneração real e de 0,8% ao ano da produtividade. O aumento da remuneração média real, por sua vez, vem de alta de 8,3% ao ano da remuneração nominal e desvalorização de 3,2% da taxa de câmbio efetiva nominal.

- Apesar da valorização entre 2004 e 2011, o câmbio efetivo nominal estava mais desvalorizado em 2011 que em 1998. O resultado indica que o aumento de custo nesse período esteve mais associado aos fortes aumentos anuais nas remunerações de mão de obra e aos baixos aumentos da produtividade - afirma.

Inovação é caminho para indústria mais competitiva

Os pesquisadores vão mostrar que as preocupações com a indústria não ocorrem exclusivamente no Brasil nem são recentes. Por um lado, a indústria ainda sofre as consequências da desaceleração econômica provocada pela crise de 2008. Por outro, o avanço de países emergentes mudou o quadro das vantagens comparativas na produção industrial. O cenário significa um excesso de oferta em nível global e uma inundação do mercado com produtos baratos produzidos em mercados emergentes, como China e Índia.

- A preocupação não é nova nem é restrita ao Brasil. O que sabemos é que esses fatores devem continuar presentes por algum tempo - aponta Bonelli.

Para João Paulo dos Reis Velloso, muitas das questões que emperram a competitividade estão fora do alcance da indústria - como impostos e infraestrutura -, mas há outras em que se pode avançar mesmo sem ajuda do governo.

- É preciso avançar em competitividade industrial e há coisas que a indústria pode fazer sozinha. As empresas brasileiras importam tecnologia em excesso e não inovam ou inovam pouco. A inovação é algo que as companhias podem fazer por conta própria - diz o ex-ministro.