Título: Obama capitaliza apoio a gays
Autor: Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 11/05/2012, O Mundo, p. 41

Presidente vê doações aumentarem e tacha oponente de retrógrado

OBAMA CHEGA a Base Naval para viajar para evento de arrecadação com astros de Hollywood na casa de George Clooney

Mandel Ngan/AFP

Um dia após a histórica declaração de apoio ao casamento gay feita pelo presidente Barack Obama, o tema colocou democratas e republicanos em campos opostos. A divisão não é só de mérito, uma vez que o virtual candidato de oposição, Mitt Romney, reafirmou ser contra a união homossexual, mas também de estratégia. A Casa Branca partiu para a ofensiva, buscando capitalizar o gesto do presidente. Já os republicanos tentavam mudar de assunto. Romney ficou na defensiva.

A equipe de Obama não perdeu tempo: ontem de manhã, enquanto suas declarações eram veiculadas na rede de TV ABC, eleitores cadastrados recebiam um e-mail com as palavras do presidente "Acredito que casais do mesmo sexo devem ser autorizados a se casar" e um pedido de doações para a campanha.

Também foi postado na internet pela equipe um vídeo intitulado "Mitt Romney: retrógrado em relação à igualdade", no qual o republicano se declara contrário ao casamento gay e a alguns direitos legais para homossexuais. "Não sou a favor do casamento de pessoas do mesmo sexo. Não sou a favor de uniões civis se elas forem idênticas a um casamento", diz.

'Bullying' em 1965 assombra Romney

O próprio Obama encerraria o dia de ontem com uma "volta olímpica", um jantar para arrecadação de fundos para a campanha de reeleição em Los Angeles, na casa do ator George Clooney. A festa, com presença confirmada de 150 celebridades de Hollywood, ao preço de US$ 40 mil por cabeça, deveria elevar o volume de doações espontâneas, que vêm crescendo desde o endosso público do presidente à causa homossexual.

Obama estava sob pressão da comunidade gay desde domingo, quando o vice-presidente Joe Biden disse, em entrevista à rede de TV NBC, que se sente "absolutamente confortável" com a ideia do casamento gay.

Em novos trechos da entrevista de Obama que foram ao ar ontem, o presidente afirma que já havia decidido tornar pública sua posição antes da convenção do Partido Democrata que chancelará sua candidatura à reeleição, em setembro.

- Se eu teria preferido fazer isso do meu jeito, no meu ritmo, sem um aviso que chamasse a atenção de todo mundo? Claro que sim, mas o importante é que acabou bem - disse.

Enquanto o presidente faturava com reações positivas ao seu gesto, o candidato republicano passou o dia explicando a revelação, em reportagem do "Washington Post", de que ele liderou um ato de agressão a um aluno gay quando era estudante do ensino médio em Bloomfield Hills (Michigan), em 1965. Segundo relato de colegas de Romney, publicados pelo jornal, John Lauber foi atacado por outros estudantes, inconformados com seus longos cabelos tingidos de louro e sua suposta homossexualidade. Romney teria usado uma tesoura para cortar os cabelos dele.

Lauber morreu em 2004. Questionado ontem sobre o episódio de

bullying

, Romney disse não se lembrar dos detalhes.

- Fiz muitas brincadeiras na escola. Fiz alguma coisas tolas, e se alguém se sentiu ofendido ou machucado, eu peço desculpas - disse, acrescentando que não estava "preocupado demais com o assunto".

No Congresso, os principais líderes saíram em defesa de seus candidatos. O presidente da Câmara, o republicano John Boehner, desdenhou da relevância do anúncio de Obama.

- Temos muito deputados com ideias sobre o que é importante para eles - disse. - O povo americano está preocupado é com a economia.

A ex-candidata a presidente Michele Bachmann, a primeira a desistir das primárias republicanas e uma das vozes influentes do movimento ultraconservador Tea Party, foi mais longe:

- O casamento entre um homem e uma mulher é a fundação da nossa sociedade. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para preservar o casamento tradicional e proteger as famílias americanas -disse.

Já a líder da minoria democrata na Câmara, a democrata Nancy Pelosi, rejeitou as acusações de que Obama teria o interesse em doações de ativistas gays como motivação, dizendo descartar "totalmente a ideia de que isso (a declaração) tenha qualquer relação com dinheiro".