Título: duas renúncias no governo do peru
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Fonte: O Globo, 11/05/2012, O Mundo, p. 42

Críticas à política de combate ao Sendero Luminoso motivaram saídas

O MINISTRO Alberto Otárola: pressão após morte de policiais

AFP

LIMA

. Os dois ministros responsáveis pela luta contra o narcotráfico no Peru renunciaram ontem após forte pressão da oposição no Congresso, no que seria o primeiro revés político da gestão do presidente Ollanta Humala. A mudança abre espaço para mais trocas no Gabinete.

Os legisladores da oposição forçaram o ministro da Defesa, Alberto Otárola, e o do Interior, Daniel Lozada, a deixarem os cargos depois que dez policiais e soldados morreram em confrontos com remanescentes do grupo rebelde Sendero Luminoso, que colocou o governo em xeque após o sequestro, em abril, de 36 trabalhadores de petroleiras.

- Eventos recentes me levaram a tomar essa decisão para que o nosso governo, a nossa representação nacional e o povo estejam unidos em torno da aplicação da lei e tenham o apoio necessário para enfrentar a nova ameaça de crimes ligados a narcóticos - disse Otárola.

A oposição já havia reunido votos suficientes para derrubar os dois ministros, que tinham previsão de comparecer diante dos legisladores amanhã. A ação do Congresso representa mais um revés para Humala. Seu partido, o Ganha Peru, não conta com a maioria, mas tem sido capaz de aprovar leis prometidas em campanha por meio de coalizões, como o aumento de impostos para empresas de mineração.

O primeiro-ministro Oscar Valdés disse que pediria a Humala que avaliasse se deve ou não permanecer no cargo.

- Coloquei minha renúncia nas mãos do presidente - disse.

Humala, que abandonou a retórica esquerdista e tem feito um governo moderado desde que assumiu, em julho, estava na Coreia do Sul, em uma viagem para promover investimentos e não se pronunciou. O presidente fez do combate aos insurgentes do Sendero Luminoso uma prioridade e determinou o envio de soldados ao centro-sul do país .

Exército sem condições de enfrentar rebeldes

Críticos afirmam que o Exército peruano não está preparado para enfrentar os rebeldes, que dizem ter sequestrado os trabalhadores apenas para atrair os soldados a uma emboscada. O Sendero Luminoso já não representa uma ameaça à estabilidade do Estado e desde 2003 não realizava um sequestro em grande escala. Mas pequenas unidades rebeldes permanecem ativas e alinhadas com traficantes de drogas.

Os pedidos de renúncia dos dois ministros se tornaram mais veementes depois que um helicóptero da polícia caiu devido, aparentemente, a uma falha técnica, matando uma pessoa.

- Estes ministros falharam - disse o legislador Carlos Bruce, da oposição. - E nossos soldados continuam sendo mortos.