Título: Venda de casa é novo problema para Perillo
Autor: de Gois, Chico; Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 12/05/2012, O País, p. 10

Segundo a PF, imóvel de luxo foi vendido a Cachoeira; governador quitou financiamento com 11 anos de antecedência

Chico de Gois, Roberto Maltchik, Cristiane Jungblut e Isabel Braga

MARCONI PERILLO: assessoria diz que quitação foi feita com venda de bens e empréstimo, mas não detalha

Quatro meses antes de vender a casa que, segundo a Polícia Federal, foi paga com cheques de parentes do bicheiro Carlinhos Cachoeira, o governador de Goiás, Marconi Perillo, quitou um financiamento de R$ 348 mil que havia feito com a Caixa Econômica Federal (CEF), em 2006, quando adquiriu o imóvel. Concluída em março de 2011, a quitação, feita em pouco mais de quatro anos dos 15 previstos no financiamento, ainda não está devidamente esclarecida e foi citada pelo delegado Matheus Mella Rodrigues em depoimento na CPI do Cachoeira.

Em 2010, a declaração que Perillo apresentou à Justiça Eleitoral não lista recursos ou aplicações para saldar a dívida. Procurada, a assessoria do governador, primeiro, informou que tudo estava registrado na declaração de Imposto de Renda apresentada este ano à Receita Federal. Indagada se poderia apresentar a declaração, a assessoria se limitou a dizer que a quitação foi feita com a venda de bens e empréstimos. Mas não informou quais bens foram vendidos, o valor do empréstimo e de quem foi tomado.

Perillo comprou a casa no luxuoso condomínio Alphaville em 22 de novembro de 2006, de acordo com certidão de matrícula registrada no 4º Cartório de Goiânia. Na época, de acordo com os documentos, pagou R$ 202 mil com recursos próprios e financiou R$ 348 mil. O imóvel custou R$ 550 mil e foi adquirido do casal Waldir Lourenço de Lima e Maria Inês Nunes.

O financiamento foi feito com a Caixa Econômica Federal. O prazo para pagamento da dívida foi de 180 meses (15 anos), e as prestações mensais foram de R$ 6.709,82, pelo Sistema de Amortização de Crédito (SAC), pelo qual o valor é reduzido minimamente mês a mês. O vencimento da primeira parcela, ainda de acordo com os documentos, foi em 13 de dezembro de 2006.

Em 30 de março do ano passado, a CEF deu autorização para o cancelamento do financiamento e da hipoteca. O pagamento da dívida, segundo a Caixa, ocorrera em 18 de março de 2011. A venda da casa para a Mestra Administração e Participação se deu em 13 de julho do mesmo ano. Ao GLOBO, Perillo disse que, "pela informação de que disponho, a acionista majoritária desta empresa é uma filha do professor Valter Paulo, que já declarou ter sido ele o comprador da casa". Porém, na escritura do imóvel, o único sócio que aparece é Écio Antônio Ribeiro. E quem estava morando na casa era Carlinhos Cachoeira, que, inclusive, foi preso nela no dia 29 de fevereiro.

Dias antes de Marconi quitar o débito com a CEF, a Polícia Federal captou um diálogo entre o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e Carlinhos Cachoeira. A conversa ocorreu dia 2 de março, às 21h, e durou menos de um minuto. O senador diz a Carlinhos que precisava falar com ele ou com Wladimir Garcez, ex-vereador em Goiânia e braço-direito do contraventor. Demóstenes diz que se trata de um recado de Perillo para Cachoeira, mas não dá mais explicações. Garcez foi o intermediário da venda da casa do governador.

Também na véspera da venda da casa em Alphaville, a PF flagrou diversas conversas entre Cachoeira e membros da organização criminosa tratando justamente da venda de um imóvel. Anteontem, em seu depoimento na CPMI, o delegado Matheus Mella Rodrigues revelou que Perillo teria recebido três cheques do sobrinho de Cachoeira como forma de pagamento. O delegado não tem dúvida de que o imóvel agora pertence a Cachoeira, embora, oficialmente, esteja em nome da Mestra Administração e Participação.

Depoimento do governador é tido como inevitável

O PSDB está se preparando para enfrentar na próxima semana uma ofensiva dos governistas da CPI do Cachoeira para aprovar a convocação de Perillo. Ontem, o presidente nacional do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), e o líder no Senado, Álvaro Dias (PR), afirmaram que o próprio governador goiano já se dispôs a comparecer à CPI, mas cobraram que também sejam convocados os governadores do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, e do Rio, Sérgio Cabral, citados no escândalo do Cachoeira.

Dias reconhece que é inevitável o depoimento de Perillo - as ligações com Cachoeira estão documentadas. Mas a estratégia do PSDB é pedir na reunião do dia 17 que os requerimentos sobre convocação de governadores sejam votados em bloco.

- É inevitável, e ele já pediu para vir. Não estamos condicionndo a sua vinda à dos outros governadores, mas não é justo dois pesos e duas medidas - disse Álvaro Dias.

- O Marconi já se dispôs a ir. O PT só está arrombando uma porta aberta. É importante dizer: ele foi o único que se dispôs a ir à CPI - completou Guerra.

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