Título: Convocação de Gurgel pode chegar ao STF
Autor: Jungblut, Cristiane; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 12/05/2012, O País, p. 12

BRASÍLIA. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, disse ontem que a discussão sobre a convocação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para prestar depoimento à CPI do Cachoeira pode chegar à Corte. Isso aconteceria se, diante da negativa do procurador-geral de prestar declarações, um parlamentar apresentasse recurso.

- Eu não quero opinar sobre esse tema, porque ele tem um potencial de judicialização. Não vou dizer que é possível (a discussão chegar ao STF), mas tem potencial. Por isso, prefiro não falar - disse Ayres Britto.

Na quinta-feira, dois ministros do STF, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, saíram em defesa do procurador-geral.

- Há certa excitação em relação a tudo isso. Tem plantação notória, grupos políticos manipulando as próprias notícias - disse Gilmar.

Com a votação do requerimento de convocação de Gurgel marcado para quinta-feira, senadores de oposição defenderam o chefe do Ministério Público, com críticas à postura do PT sobre o assunto. Mais enfático na defesa do procurador-geral, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) cobrou coerência do PT e argumentou que, como procurador, Gurgel não pode ser testemunha na CPI.

O senador disse que, no início do governo Lula, quando Cachoeira foi flagrado repassando dinheiro a Waldomiro Diniz, servidor da Casa Civil, o PT não exigiu agilidade do MP. Os petistas são os que mais cobram explicações de Gurgel sobre o fato de não ter enviado ao STF a investigação da Operação Vegas, feita pela Polícia Federal em 2009 sobre a ligação de Cachoeira com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).

- Quererem transformar a CPI na CPI do procurador-geral. É piada, é algo que não pode ser levado a sério. O Supremo, por unanimidade, prestou solidariedade ao procurador. E o PT quer transformar a CPI do Cachoeira na CPI do Gurgel. Meu querido PT, é muita cara de pau! O PT tem problemas com o procurador? Entre com requerimento junto à Procuradoria, solicite que seja investigado, mas isso não pode ser feito na comissão. Isso é má-fé, é ridículo, soa mal, e está ficando mal para o PT - discursou Simon para um plenário quase vazio. - O PT não quer convocar o governador de Brasília, o PSDB não quer convocar o governador de Goiás, e o PMDB não quer convocar o governador do Rio. Mas todo mundo quer convocar o procurador-geral!

Simon foi apoiado pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).

- Temos frontal oposição à convocação do procurador-geral da República, porque entendemos que se trata de manobra diversionista, para desviar o foco principal da CPI. É diversionista em relação ao julgamento do mensalão, que se aproxima. O procurador-geral é o titular da ação penal e será eventualmente chamado a propor ação penal contra agentes dotados de prerrogativa de foro. Não pode servir de testemunha - disse Aloysio, relatando o que ouviu de Gurgel.

O pedido de convocação de Gurgel foi protocolado pelo senador Fernando Collor (PTB-AL), mas a tendência é que a CPI negocie que o procurador envie explicações por escrito.