Título: Produtores estão otimistas
Autor: Pires, Luciano
Fonte: Correio Braziliense, 20/09/2009, Economia, p. 17

Insumos menos caros e melhora do clima fazem agricultor ampliar investimentos para plantio

Fazendeiros aumentam aquisição de matérias-primas a fim de preparar a terra para o cultivo em outubro

Embora ainda bastante endividados e com dificuldades de renda, agricultores das principais regiões produtoras de grãos do país preveem que 2010 será um ano de retomada e novos recordes. A perspectiva otimista vem na esteira da recente queda nos preços dos insumos e na melhora do clima. Oficialmente, o plantio da safra só começa em outubro, mas em alguns estados considerados celeiros a terra já recebe os primeiros cuidados.

A aquisição de matérias-primas ganhou força nas últimas semanas. O mercado de compra e aluguel de terras também voltou a ficar aquecido com a migração de culturas como milho, soja e cana-de-açúcar, especialmente no Sul e no Centro-Oeste. Apesar de ter amargado dias sombrios por causa da crise econômica mundial, o campo sinaliza que o pior já passou. ¿As previsões foram pessimistas demais. Como pouca coisa se concretizou, o momento é de confiança¿, diz Airton Camargo, superintendente de Informação do Agronegócio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Os resultados finais da última colheita ¿ encerrada neste mês ¿ comprovam isso: a produção brasileira de grãos deste ano alcançou 134,3 milhões de toneladas, 6,8% menor do que o período anterior (144,1 milhões de toneladas). No início de 2009, entidades ligadas ao campo e ao próprio Ministério da Agricultura estimavam que a queda em relação à safra passada ficasse em 10%.

Milho e soja foram os grãos mais colhidos no país. A área plantada manteve-se praticamente igual à utilizada em 2008, chegando a 47,7 milhões de hectares. A estiagem no Centro-Sul prejudicou parte dos grãos cultivados, mas não todos. O arroz plantado no Rio Grande do Sul registrou recorde de produtividade: 7.150 kg/ha. As safras de feijão acompanharam.

A primeira pesquisa de intenção de plantio feita pela Conab para a temporada 2009/2010 será realizada ainda neste mês de setembro. Os técnicos não arriscam nenhum prognóstico, mas admitem que a reversão do cenário macroeconômico brasileiro e mundial poderá influenciar positivamente a tomada de decisão do produtor. O mercado internacional deve ser outro componente decisivo. A crise da agropecuária argentina e os ajustes nas previsões de safra nos Estados Unidos vão balizar a maior parte dos grandes projetos de cultivo no Brasil.

Ajustes são necessários

José Mário Schreiner, presidente da comissão nacional de cereais, fibras e oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), explica que 2009 surpreendeu para melhor e que as perspectivas para 2010 são mesmo otimistas. O representante dos agricultores adverte, porém, que o país precisa fazer ajustes estruturais capazes de garantir proteção ao setor. ¿O que dá segurança e confiança mesmo são políticas de crédito e preços mínimos mais consistentes¿, resume.

Durante esta fase de pré-plantio, Schreiner recomenda ao produtor cautela e atenção. Segundo ele, ainda que as expectativas sejam boas, quem puder, não deve assumir dívidas ou abusar da tomada de crédito. Contrariando alguns analistas, Schreiner diz ainda que o agricultor não pretende economizar em tecnologia na próxima safra. ¿As coisas deram uma aliviada boa. Agora é ficar de olho nos preços e plantar¿, completa.

Um incentivo para a próxima safra foi a decisão do Conselho Monetário Nacional, que na útima quinta-feira instituiu linha de crédito, no total de R$ 200 mil por produtor, para financiar a liquidação de empréstimos tomados por cafeicultores cujos recursos tenham sido investidos na produção. Os recursos serão ofertados mediante taxa de juros de 6,75% ao ano, com liberação em uma única parcel,a e estarão disponíveis até março de 2010. (LP)

Segunda melhor

A produção nacional do ciclo agrícola 2008/2009 é a segunda maior da história do país ¿ o melhor resultado foi obtido na safra passada. Apesar da falta de chuvas em períodos decisivos do plantio nos estados do Sul, culturas tradicionais avançaram. De soja o Brasil colheu um total de 57,1 milhões de toneladas, confirmando mais uma vez a liderança do grão entre tantos outros produzidos nas lavouras nacionais.