Título: A conferência mais importante da ONU
Autor: Casemiro, Luciana
Fonte: O Globo, 12/05/2012, Economia, p. 34

A arquitetura neoclássica e o jardim interno do palácio do Itamaraty fazem esquecer o movimento do Centro do Rio. Mas esta sensação é interrompida ao se cruzar a porta da área que abriga o Centro de Informação das Nações Unidas (ONU) que está a todo vapor a pouco mais de um mês do início da Rio+20, a Conferência para o Desenvolvimento Sustentável que deve bater recorde em participação de chefes de estado na história da organização. Quem avisa é o italiano Giancarlo Summa, diretor do Centro de Informação, dizendo que a ONU nunca teve medo de esvaziamento da Rio+20. Mais do que isso, a conferência será um marco para as Nações Unidas que deve fazer do desenvolvimento sustentável a chave de sua atuação.

O GLOBO:

A toda hora tem alguém falando sobre o esvaziamento da Rio+20 pela ausência de chefes de Estado de países-chave como Alemanha e EUA...

GIANCARLO SUMMA:

Eu não sei quem teve ou tem essa preocupação. A ONU nunca teve essa preocupação de esvaziamento da conferência pela ausência dos chefes de Estado. Até agora já tem mais de 130 chefes de Estado confirmados, aliás, esse número já está ultrapassado. De fato, a única dúvida real é se o Obama virá ou não, isso se decide de uma hora para outra. A ONU tem 193 países, entre 140 e 150 deverão vir. Essa será a conferência da ONU com a maior participação de chefes de estado e governo na história das Nações Unidas, uma objetiva importância, portanto qualquer documento será um documento muito forte, pela quantidade de endossos que vai ter. Isso faz com que se saia da discussão de especialistas e acaba fazendo com que o documento tenha um valor político e diplomático mais elevado. É um processo complexo.

Como o senhor vê a posição do Brasil hoje?

SUMMA

: O Brasil tem um papel de liderança objetiva em todo o processo, uma das razões pelas quais houve unanimidade, quando o então presidente Lula sugeriu que o Brasil, mas especificamente o Rio, fosse sede da conferência. Nos últimos períodos, vemos um aumento do desenvolvimento econômico do país e redução de desigualdades, através de políticas públicas e isso foi feito, a grosso modo, num quadro de respeito ao meio ambiente, e no qual vários indicadores melhoraram de maneira expressiva. O governo assumiu uma meta voluntária para diminuir o desmatamento da Amazônia que está sendo respeitada. O Brasil tem uma matriz energética extraordinariamente limpa e tem também o compromisso de aumentar a produção de energia eólica e solar. Então o Brasil demonstrou que com políticas públicas você pode crescer e pode fazer isso sem acabar com o meio ambiente e até protegendo, já que a situação está melhor do que há 20 anos. Na Rio 92, o Brasil só apanhou, Amazônia, índios isso e aquilo, fez um esforço político, mas na época não havia coisa bonita para mostrar. Vinte anos depois o Brasil saiu nos anos 1980, de ditadura, crise econômica, desmatamento, mas naquela época o país decidiu comprar essa briga e foi fazendo, foi política de Estado. É a demonstração que é possível e, se é possível no Brasil, porque não vai ser em outros países. Isso não quer dizer que não haja problema, problema sempre há. A questão é a direção, se a direção é certa, positiva ou não. Nesse sentido o Brasil já exerce uma liderança. E há um esforço brasileiro de ser uma espécie de grande mediador entre interesses e visões diferentes, entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Em Durban, a participação brasileira foi fundamental para que a negociação não acabasse de vez.

O senhor falou de divergência entre os países emergentes e os desenvolvidos?

SUMMA:

A definição de economia verde é algo que está criando muitas tensões. Os países emergentes insistem sobre o direito ao desenvolvimento, direito a segurança humana, água e alguns países mais desenvolvidos têm restrições. Isso ainda é o jogo, o jogo tradicional, precisa dar daí um salto, porque o planeta é só um. O princípio da redução da desigualdade é correto, não somente em nível nacional, como global. Só que sabemos é que essa redução da desigualdade não poderá ser feita levando todo mundo para o andar de cima, teremos que fazer um rearranjo.