Título: Um craque na ponta esquerda
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Fonte: O Globo, 12/05/2012, O Mundo, p. 39

Líder do partido esquerdista mais votado nas eleições da Grécia, Alexis Tsipras explica o sucesso do Syriza, a Coalizão de Esquerda Radical, com uma metáfora futebolística. "Nós somos como o Barça (Barcelona): jogamos com a fantasia", afirma o jovem político de 37 anos, torcedor fanático do clube azul-grená. Esse engenheiro civil, também chamado de Alexis Cool, tem sua marca registrada: costuma usar camisas desabotoadas na gola com paletó escuro. Desde 2008, Tsipras está à frente do agora segundo maior partido grego, que detém 16,7% dos votos e 52 deputados. Nada mal para quem estreou no Parlamento em 2009.

Seus colegas costumam definir Tsipras como um "homem trabalhador, rigoroso e frio - para o bem ou para o mal".

- Ele tem química com as pessoas: é muito espontâneo, o que tem vantagens e desvantagens - brinca Zoe Kostantopoulou, seu braço-direito.

O líder do Syriza ingressou na Juventude Comunista da Grécia no fim dos anos 1980. No início de 1990, já era um ativo membro do movimento estudantil. Foi membro do conselho executivo da União dos Estudantes da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade de Atenas, participou da criação do Fórum Social Grego e era assíduo nas marchas e protestos contra a globalização.

Pai de uma menina, Tsipras mora num apartamento em Kipseli, um bairro com uma porcentagem significativa de imigrantes. Conheceu sua mulher, Peristera Baziana, também engenheira, em 1987, quando os dois estavam no Ensino Médio e se tornaram membros da Juventude Comunista (hoje o Partido Comunista não integra a coalizão liderada por Tsipras). Peristera está grávida do segundo filho, esperado para julho.

De punhos cerrados, bem a seu estilo, Tsipras falou recentemente a uma multidão em Atenas:

- Por dois anos, eles (os governantes) têm tomado decisões sem nos perguntar. O povo grego não lhes deu o mandato para tomar essas decisões. No berço da democracia, não há democracia. Chegou a hora de fazer a democracia voltar ao lugar onde ela nasceu.

Carismático, o líder do bloco antiausteridade sustenta que a Grécia está se tornando um "protetorado", despojado de qualquer gestão de seus próprios assuntos. Ele classifica os contratos firmados com o FMI de desumanos e defende que a Europa precisa de um novo New Deal - a política americana desenvolvimentista de Franklin Roosevelt - para aplacar os efeitos da crise de 1929.

Na sede do Syriza reina uma agitação incomum desde segunda-feira. O porta-voz da coalizão, Panos Skurletis, explica o clima de expectativa:

- O sucesso do Syriza deve ser visto como um trampolim para a esquerda grega. Se houver uma nova eleição, acreditamos que muito mais gente vai nos apoiar, e poderemos formar uma frente unida das forças progressistas.

*Com agências internacionais