Título: Acrópole desgovernada
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Fonte: O Globo, 12/05/2012, O Mundo, p. 39

O presidente Karolos Papoulias assume hoje a difícil - e quase impossível - tarefa de evitar que a Grécia seja obrigada a convocar novas eleições. Após o fracasso dos três partidos mais votados na tarefa de formar um governo de unidade nacional, o presidente se reúne com os líderes de todas as legendas que conquistaram assentos no Parlamento para tentar forçar uma coalizão. Este último recurso é visto como uma medida com poucas chances de êxito. Se as expectativas se confirmarem e Papoulias fracassar, ele será obrigado a convocar uma nova votação em cerca de 30 dias e designar um governo interino. A medida prolongaria a crise política e a instabilidade econômica do país, mas abriria espaço para uma nova mudança na composição de forças no Parlamento, com a votação estimada para o dia 17 de junho.

Os desafios à frente não são poucos. O primeiro-ministro Lucas Papademos já sinalizou que não está disposto a permanecer no cargo caso o país tenha nova eleição. E enquanto os líderes dos partidos enfrentam uma maratona de reuniões sem sucesso, o premier se encontrou ontem com o presidente para discutir a situação financeira do país. Na próxima semana, a Grécia tem um vencimento de dívida de 450 milhões, mas ainda não está certo que o país honrará o compromisso, entre outras atribuições previstas num futuro próximo.

Até o começo da tarde de ontem, ainda havia esperança de que um governo de coalizão negociado pelo Pasok, o partido socialista, pudesse ser acordado. Mas a posição irredutível de Alexis Tsipras, líder da Coalizão de Esquerda Radical, também conhecida como Syriza, impediu que se chegasse a uma aliança. Evangelos Venizelos, líder do Pasok, já havia se reunido com o pequeno partido Esquerda Democrática e com o conservador Nova Democracia, o mais votado na eleição de domingo. As duas legendas condicionaram sua participação no governo à presença do Syriza, que obteve o segundo lugar. As bases da aliança seriam um governo a favor da manutenção da Grécia na zona do euro e disposto a manter a parte principal do pacote de resgate de 130 bilhões negociado com a troika (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) para evitar a falência do país, ainda que houvesse uma intenção clara em rediscutir aspectos do acordo.

'Partidos não ouvem recado das urnas'

Tsipras, que viu sua popularidade disparar com uma plataforma contrário ao pacote e, consequentemente, aos sacrifícios impostos ao povo grego - como cortes de salário e pensões - é considerado o favorito numa nova eleição, de acordo com pesquisa realizada nesta semana. Ontem, ele se recusou a participar da aliança e acusou as legendas que tradicionalmente dominavam o Parlamento - o Pasok e o Nova Democracia - de não entender o recado das urnas:

- Não é a Coalizão de Esquerda Radical que recusa essa proposta, mas o povo grego, que o fez por meio do voto no último domingo - disse.

Por outro lado, a mesma sondagem que apontou a preferência dos eleitores pelo Syriza mostra que dois em cada três gregos são contrários a uma nova eleição, preferindo o caminho da negociação de um governo de coalizão.

Venizelos rebateu a declaração, afirmando que a ascensão meteórica da popularidade de Tsipras tem de significar também aumento de responsabilidade, e não de arrogância. O socialista entrega hoje o mandato ao presidente:

- O momento da verdade é agora. Vou informar o presidente amanhã (hoje) à tarde. Espero que todos mostrem maturidade e responsabilidade nas consultas com ele.

Mesmo que Papoulias consiga formar um governo de minoria (o que significa ao menos 120 assentos, de acordo com a lei grega), poucos no país acreditam que um Gabinete sem respaldo majoritário consiga sobreviver aos primeiros desafios no Parlamento.