Título: Manifestantes repetem esculachos em 11 estados
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Fonte: O Globo, 15/05/2012, O País, p. 11

GUARUJÁ. Seis e meia da manhã: dezenas de jovens sentam-se em círculo para ouvir, no galpão de um sindicato na zona norte de São Paulo, as orientações para o "esculacho" do dia: o tenente-coronel da reserva Maurício Lopes Lima, apontado pelo Ministério Público Federal como um dos torturadores da presidente Dilma Rousseff em 1970 e listado no livro "Tortura nunca mais". São cerca de 80 pessoas, alguns tambores, faixas, cartazes e tinta spray. Os manifestantes, organizados pelo Levante Popular da Juventude, partem em 19 carros para o Guarujá, onde Lima vive em um pequeno apartamento.

Na porta do prédio, um dos jovens saca o spray com tinta vermelha e escreve rapidamente: "Aqui mora um torturador". Lima não deixa o apartamento, mas alguns vizinhos saem às ruas.

- Acho certo isso. Que os culpados venham à tona - disse Alberto Felipe, um aposentado de 74 anos, que mora a dois prédios de distância de Lima.

Foram 12 mobilizações realizadas ontem em 11 estados, incluindo Rio, Bahia e Minas Gerais. Oito agentes da ditadura foram "esculachados", seguindo um protesto que tem se multiplicado no país. Lima é um dos nomes de maior destaque por ter sido citado como torturador pela então guerrilheira Dilma Rousseff em seu depoimento à Auditoria Militar. Ele é um dos alvos de uma ação civil pública do Ministério Público Federal, que acusa militares de seis desaparecimentos e 20 casos de tortura.

Além das palavras de ordem, o grupo encena técnicas de tortura: o pau de arara, a cadeira do dragão, os choques elétricos, o afogamento.

Alguns jovens gritam: "Pagu", outros respondem: "Presente!" Entre os nomes citados, sai até um "Carlos Lacerda", secundado por outro "Presente!". Uma das faixas é taxativa: coloca Lima como "torturador da presidente".

Os manifestantes deixam a porta do prédio de Lima e, com suas músicas, seguem em volta do quarteirão, acompanhados por dois carros da polícia. Um sargento sai do carro para falar com os manifestantes, pedindo que o protesto seja pacífico.

- Esse torturador já foi julgado? - pergunta ele, dizendo desconhecer o coronel Lima.

Os jovens riem, e um deles diz:

- É o que esperamos que aconteça.