Título: IR de bicheiro aponta sócio na Coreia do Norte
Autor: de Gois, Chico
Fonte: O Globo, 17/05/2012, O País, p. 14

A declaração de Imposto de Renda Pessoa Física de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, apresenta uma informação que surpreendeu os parlamentares. Que o contraventor era sócio da Bet Capital, com 49%, todos sabiam. O que chamou a atenção dos senadores é que a outra parte da sociedade, em nome da Bet Corporation, estaria sediada na Coreia do Norte, um dos países mais fechados do mundo, onde não há empresa privada, pois é um estado comunista. As informações levantam suspeitas de lavagem de dinheiro em empresa de fachada.

De acordo com o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Cachoeira recebeu vultosos recursos da Bet Capital. Em 2008, foram R$ 2,8 milhões; em 2009, R$ 4,3 milhões, mesmo valor repetido em 2010. No entanto, como afirmou o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), os rendimentos tributáveis do contraventor eram espartanos.

Para Randolfe, as informações fiscais estão abrindo um universo complexo de empresas coligadas, nas quais Cachoeira tem participação acionária. E que as transferências de recursos entre essas empresas e empréstimos levam a crer que a evasão de divisas é outro dos crimes praticados pelo bicheiro.

O ano com maior rendimento na declaração de Cachoeira ao Fisco, segundo Cunha Lima, foi em 2002, quando o contraventor informou ter recebido R$ 530 mil. Em 2003 e 2004, ele não ganhou nada. A partir daí passou a receber pouco: em 2007, teria sido R$ 16,8 mil; em 2008, R$ 20,4 mil; em 2009, R$ 75 mil e, em 2010, R$ 60 mil.

Cunha Lima disse, ainda, que ele teria feito uma transação imobiliária com uma casa em Miami, na qual, num primeiro momento, ele comprou o imóvel e, depois, repassou metade dele para um coreano. Conforme o senador, Cachoeira declarou ser sócio também da Vantagen Marketing.

- A quebra do sigilo fiscal revela uma desproporção muito grande entre o que ele declarava e o que arrecadava - disse .

Para o tucano, a reunião administrativa da CPMI que ocorre hoje tem de aprovar a quebra de sigilo de outras empresas ligadas a Cachoeira e da Delta Construções, por exemplo.

Na pauta da CPMI há 235 requerimentos para serem votados. Muitos são repetitivos e a maioria sobre convocação de testemunhas ou acusados, além da quebra de sigilos. A mais importante é a que trata da construtora Delta e a convocação de seu ex-presidente, Fernando Cavendish.

O Ministério Público Federal do Rio abriu na sexta-feira inquérito para apurar a venda da Delta Construções para a holding J&F. O procurador Edson Abdon Peixoto Filho, da área de Patrimônio Público, pediu informações às empresas envolvidas - Delta, J&F e JBS - e ainda ao Tribunal de Contas da União, à Controladoria-Geral da União, ao BNDES e à Secretaria de Administração da Secretaria Geral da Presidência , além da Junta Comercial. Abdon pediu que o TCU e a CGU enviem informações sobre processos de irregularidades e também contratos entre a União e a Delta. Para a Secretaria Geral da Presidência, o MPF pediu a listagem dos contratos da Delta com a União. O prazo para as respostas termina no dia 21 deste mês.