Título: Vice da América Latina
Autor: BôasB, runo Villas
Fonte: O Globo, 17/05/2012, Economia, p. 23

Pressionada pelos preços dos combustíveis vendidos em suas refinarias e o pânico dos mercados financeiros com a crise europeia, a Petrobras perdeu US$ 31,6 bilhões de valor de mercado neste ano. É como se o Banco do Brasil (US$ 29,4 bilhões) tivesse escorrido entre os dedos. Assim, a estatal deixou o posto de maior empresa da América Latina, que passou a pertencer à petroleira colombiana Ecopetrol, sediada em Bogotá, de acordo com levantamento da consultoria Economatica. Segundo especialistas, a Petrobras seguirá pressionada nos próximos meses pela valorização do dólar, queda da cotação do petróleo e a manutenção da defasagem de preços dos combustíveis. São fatores que influenciaram a queda do lucro líquido da companhia no primeiro trimestre deste ano, de 16% em relação ao mesmo período do ano passado, para R$ 9,2 bilhões.

De acordo com o estudo da Economatica, o valor da Petrobras tombou de US$ 155,4 bilhões ao fim do ano passado para US$ 123,8 bilhões na última quarta-feira, quando fechou no menor valor desde abril de 2009. Para chegar a esse número, a consultoria multiplica o número de ações da companhia pela cotação dos papéis na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

Erick Scott, analista da SLW Corretora, explica que a estagnação da produção nacional de petróleo - em 2,06 milhões de barris diários - e a forte interferência do governo na gestão da companhia - impedindo o aumento de preços dos combustíveis (gasolina e diesel) - são os fatores da Petrobras que mais preocupam o mercado. Os combustíveis vendidos na porta das refinarias da estatal estão 20% mais baratos do que no exterior.

- A interferência política na companhia é muito ruim. Com a defasagem dos preços (combustíveis), e o câmbio menos favorável, deve continuar nos próximos meses com margens pressionadas - afirmou Erick.

Estrangeiros batem em retirada

No começo deste ano, as ações da Petrobras foram um dos melhores investimentos do país. Os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) da empresa chegaram a subir 20,22% até 7 de fevereiro, quando registraram seu maior preço em 2012, a R$ 25,21. Essa escalada aconteceu numa época de relativa calmaria da crise europeia, período marcado por pesadas compras de ações da empresa por investidores estrangeiros. E subiram ainda influenciadas pela indicação da então diretora Maria das Graças Foster para a presidência da estatal, no fim de janeiro.

- A Petrobras é uma porta de entrada dos investidores estrangeiros no Brasil. Eles compraram muito as ações da empresa, num período de forte alta da Bolsa. Mas isso durou, na realidade, muito pouco. Se é porta de entrada, é também de saída nos momentos de crise - explica Ricardo Corrêa, da Ativa Corretora.

O destino da Petrobras na Bolsa tomou novos rumos a partir da divulgação do balanço dos resultados da companhia de 2011. O lucro líquido da estatal tombou 52% no quatro trimestre do ano passado, na comparação ao mesmo período do ano anterior, para R$ 5,05 bilhões. Foi quase a metade do estimado por analistas, um desastre. No dia seguinte, as ações recuaram 8% na Bolsa e seguiram ladeira abaixo. Desde 8 de fevereiro, os papéis da Petrobras recuaram 23,68%. No acumulado do ano, o que já foi um impressionante ganho é agora uma perda de 8,02%.

Segundo analistas, nem a mudança no comando da Petrobras foi suficiente para estancar as perdas. Desde que assumiu a estatal, Foster trocou quatro das seis diretorias: Exploração & Produção, de Gás e Energia, Abastecimento e Engenharia. Os novos executivos têm um perfil técnico, sem vínculos políticos. Resta a troca das diretorias Financeira e Internacional.

Os especialistas lembram que o balanço da Petrobras no primeiro trimestre superou as expectativas do mercado, que previa um lucro líquido na faixa de R$ 8,5 bilhões. Mas a surpresa nos resultados foi provocada, basicamente, por fatores externos à gestão da companhia, como a valorização dos preços do barril de petróleo no primeiro trimestre deste ano.

O diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires Rodrigues, destaca que os resultados da companhia não vão melhorar enquanto a empresa não atuar em três questões básicas: o crescimento da produção de óleo, agora estagnada, o aumento do preço dos combustíveis vendidas aos postos e o grande volume de importações de derivados, principalmente gasolina.

- O resultado (do trimestre) foi graças a fatores externos à sua gestão, como a alta dos preços do petróleo lá fora em 8% e o aumento das exportações. Ela não pode ficar à mercê disso para ter bons resultados - disse Pires.

Para ele, assim como outros analistas de mercado, é ruim o fato de um ministro da Fazenda, independentemente de quem for, ser presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Segundo Pires, há um conflito de interesses, pois, como ministro, tem que combater a inflação, não concedendo reajuste de preços.

Natanael Cezimbra, da corretora do Banco do Brasil, também ressalta preocupação com a produção da companhia, aumento do refino no país para redução das importações, indefinições no plano de investimentos e a defasagem dos preços:

- Os preços do petróleo lá fora tendem a cair, e a taxa de câmbio não vai ajudar a Petrobras com a alta do dólar. E sem sinalização sobre a defasagem e produção, a perspectiva é ruim.

Mesmo com as preocupações, as ações PN da Petrobras avançaram 4,33% ontem, para R$ 19,29. Os papéis ON subiram 3,63%, para R$ 19,98. Procurada, a Economatica não informou se o avanço foi suficiente para a empresa recuperar a liderança na América Latina.