Título: Espanha rejeita adotar corralito
Autor:
Fonte: O Globo, 16/05/2012, Economia, p. 23

Governo aceita colaboração do Banco Central Europeu para sanear bancos

PANELAÇO DO Movimento 'Indignados': em Madri, manifestantes culpam banqueiros e políticos por agravamento da crise na Espanha

Juan Medina/Reuters

MADRI.

O ministro da Economia espanhol, Luis de Guindos, veio a público ontem acalmar a tensão dos mercados por causa da escalada, nas últimas semanas, do prêmio de risco da Espanha (a diferença entre o bônus oferecido no país e na Alemanha, considerado o país mais seguro). Um dia após a reunião de ministros de Finanças da União Europeia, Guindos afirmou de forma taxativa que o país não irá recorrer a medidas extremas, como o chamado "corralito" (limite de saques nos bancos), mesmo que a crise grega se torne ainda mais aguda.

O ministro espanhol afirmou ainda que serão feitas avaliações independentes nos ativos bancários do país com a colaboração do Banco Central Europeu. A missão dos técnicos será fazer um diagnóstico sobre a saúde dos bancos espanhóis. A previsão é que esse processo se estenda por dois meses.

- O governo reitera que a percepção dos mercados sobre a realidade é pior do que a realidade em si. Por isso, está em marcha esse exercício de transparência - declarou Guindos.

O ministro da Economia descartou, no entanto, que a Espanha recorra ao fundo de resgate europeu para auxiliar os bancos espanhóis.

- Ninguém pediu nada parecido - afirmou.

País culpa a Grécia por tensão nos mercados

Guindos põe agora a pressão sobre Bruxelas. Considera que fez tudo o que estava a seu alcance e chegou a vez de as instituições europeias agirem. Uma possibilidade seria aumentar os prazos para que a Espanha corte as metas de déficit. Para ele, a crise na Grécia foi o detonador da alta do prêmio de risco espanhol:

- A Grécia tinha um acordo: em troca das ajudas, deveria pôr em marcha políticas econômicas; sem um governo, no entanto, não é possível.

A população espanhola se manifestou ontem diante do cenário de crise. Inspirados no panelaço argentino, que ocorreu quando o governo do país lançou mão do "corralito", o movimento espanhol 15-M, também chamado "Indignados", celebrou ontem seu aniversário de um ano, reunindo quatro mil pessoas no monumento Porta do Sol, em Madri. As manifestações duraram quatro dias e vão se repetir quando o prêmio de risco atingir 500 pontos (hoje está em 485), asseguraram manifestantes. Ontem, três pessoas ficaram feridas e oito foram presas.