Título: De discípula para mestra
Autor: Alencastro, Catarina; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 18/05/2012, Economia, p. 28

Dilma entrega prêmio a sua ex-professora Maria da Conceição Tavares

A presidente Dilma Rousseff entregou ontem o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia a sua ex-professora de economia Maria da Conceição Tavares. Em seu discurso, a presidente disse que falava de discípula para mestra. Segundo Dilma, a economista portuguesa, naturalizada brasileira, ajudou a construir o "mapa do caminho" que o Brasil vem seguindo na última década e que representou uma mudança na rota do desenvolvimento nacional. Nesse período, destacou, o país abandonou a ideia de que deve atrelar o crescimento somente à autorregulação do mercado e passou a considerar a inclusão social na equação econômica.

- O Brasil vive nos últimos dez anos um ponto de mutação na História de seu desenvolvimento. Foi necessário que tivéssemos ideias e o mapa do caminho, para o qual nossa professora Maria da Conceição Tavares deu várias contribuições. Nós hoje não admitimos a possibilidade de construir um país forte e rico dissociado de melhorias de vida para a população. Vivemos uma grande transformação, uma benigna subordinação da lógica econômica à agenda dos valores indissociáveis da democracia e da inclusão social - disse a presidente.

Dilma destacou que Maria da Conceição Tavares foi responsável pela formação de várias gerações de economistas. Ela mesma disse que até hoje tem sua ex-professora como conselheira para as tarefas que desempenha como presidente da República.

Maria da Conceição, que recebeu um prêmio de R$ 140 mil, fez críticas ao governo Fernando Henrique e elogiou as gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma. Durante os dois mandatos consecutivos do tucano, ela se opôs fortemente às reformas econômicas implementadas, entre elas a de exploração do gás, a do conceito de empresa nacional e dos monopólios do petróleo e das telecomunicações.

- Durante o mandato do presidente FH eu resolvi ir para a política, porque não adiantava falar nada. Ele mudou a Constituição em pontos fundamentais. Não conseguiu mudar tudo, graças a Deus. Aquele foi um período estranho - disse a acadêmica de 82 anos.

Segundo ela, foi no governo do PT que o Brasil, pela primeira vez, não precisou tomar medidas drásticas para não afundar durante uma crise internacional.

Ao encerrar sua fala, em tom de brincadeira, Maria da Conceição disse que espera morrer feliz por ser brasileira e triste por ser europeia, já que afirmou não acreditar que viverá o suficiente para ver o fim da crise econômica naquele continente.