Título: Distrito Federal lidera ranking do magistério
Autor: Gois, Antônio; Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 21/05/2012, O País, p. 3

BRASÍLIA. Os professores do Distrito Federal recebem os maiores salários da categoria no Brasil, conforme o censo do IBGE. Nem por isso deixaram de fazer greve este ano. Durante 52 dias, cruzaram os braços para reivindicar isonomia com as demais carreiras de nível superior. O sindicato diz que um profissional ganha, em média, R$ 5 mil por mês - o que deixaria o magistério em 23º lugar, dentre 26 áreas do governo local.

No balanço feito pelo GLOBO a partir do censo do IBGE, o DF ficou na primeira posição do ranking salarial de professores por estado, tanto no ensino médio (R$ 4.367) quanto no ensino fundamental (R$ 3.412). O Rio de Janeiro foi o 4º no ensino médio, com renda mensal de R$ 2.778; e o 9º no ensino fundamental, com R$ 1.882. Os dados são de 2010 e consideram profissionais da rede pública e privada.

O Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) diz que o resto do país não serve de parâmetro. É que, no DF, o governo federal banca despesas de Segurança Pública e parte dos gastos com Educação e Saúde.

- Não podemos comparar o salário do Distrito Federal com o de outros estados e sim com os dos demais trabalhadores do DF. A grosso modo, todas as carreiras do DF têm salários maiores: o médico ganha mais, o policial ganha mais - diz a diretora de Imprensa do Sinpro, Rosilene Corrêa.

A greve terminou no último dia 2. Para recuperar aulas, as escolas funcionarão aos sábados até o fim do ano.

O professor de Português Carlos Eugênio Rêgo, de 47 anos, recebe salário bruto de R$ 7.464,42 por mês. Ele leciona há 21 anos e está perto do topo da carreira, cuja remuneração vai de R$ 2.426,69 a R$ 8.794,44, conforme tabela do Sinpro. Trabalha no Centro de Ensino Médio Setor Oeste, escola da rede pública de Brasília com melhores resultados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) à exceção de colégios militares. Ele diz que, ocasionalmente, dá aulas em cursinhos para complementar a renda.

- O ponto fundamental é a isonomia. Incomoda muito a enxurrada de reportagens dizendo que temos o maior salário do Brasil. Tem que levar em conta o custo de vida - diz Carlos Eugênio.

Já o professor de Física Lucélio Oliveira Fernandes, 42 anos, conta que o Setor Oeste não tem laboratório de Ciências e dispõe de apenas dois docentes de Física para 1.140 alunos de ensino médio. Segundo ele, seria necessário pelo menos mais um profissional.

- E olha que dizem que essa é a melhor escola do DF. Fico imaginando como é a pior - afirma Lucélio.

Às vésperas da aposentadoria, o professor de Geografia e Artes Francisco Chagas Rocha, o Paco, de 64 anos, vê descaso na forma como os governos, depois de eleitos, tratam o magistério:

- Se você ganha seis ou sete mil reais por mês, acaba ganhando (líquido) 3.500 reais. E o GDF (governo do Distrito Federal), escreva aí, por favor, o GDF, cretinamente, diz que o professor ganha bem - diz Paco.