Título: BC alemão alerta para exposição à Grécia
Autor: Lohnes, Thomas
Fonte: O Globo, 21/05/2012, Economia, p. 18

BERLIM, CHICAGO e NOVA YORK. O presidente do Bundesbank (o banco central da Alemanha), Jens Weidmann, afirmou ontem que os bancos centrais na Europa não deveriam aumentar sua exposição à Grécia devido ao alto nível de incerteza política no país, em entrevista publicada no jornal "Frankfurter Allgemeine."

"De fato, não considero que seja correto para o sistema do euro aumentar ainda mais seu nível de risco para a Grécia. (...) Frente à essa situação extremamente incerta, em minha opinião, o trabalho dos estrategistas políticos financeiros é o de decidir se os contribuintes europeus deveriam assumir riscos adicionais", disse ao jornal.

Weidmann acrescentou que o Banco Central Europeu (BCE) e o Bundesbank enfrentariam prejuízos se a Grécia saísse da zona do euro.

"Não quero especular sobre quaisquer cenários. Mas há uma ameaça de perdas para o BCE e o Bundesbank e, portanto, para os contribuintes alemães no caso (de a Grécia deixar a zona do euro)", disse Weidmann, que também é estrategista do BCE.

Crescem dúvidas sobre corrida aos bancos

Ontem, o premier britânico, David Cameron, afirmou que os eleitores gregos devem escolher se querem ou não permanecer na zona do euro, nas novas eleições no país, marcadas para 17 de junho. Cameron defendeu, ainda, que os líderes da zona do euro preparem planos de contingência para essa possível situação (a saída da Grécia do euro), capazes de manter as economias seguras e estáveis.

- Agora, temos de mandar uma mensagem muito clara à população grega. Há uma escolha: você pode votar para que a Grécia continue na zona do euro, com tudo o que o país se comprometeu, ou, se você votar em outra opção, na prática você está votando na saída - disse a jornalistas, antes da cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Já o ministro de Finanças britânico, George Osborne, publicou artigo no "Sunday Times" no qual afirma que a zona do euro pode proteger sua moeda se os países mais fortes derem apoio aos mais fracos para ajudá-los a lidar com os problemas.

Segundo ele, o futuro do bloco está ameaçado por um impasse político na Grécia, que pode levar à saída do país da união monetária a custos ignorados ao sistema financeiro e à estabilidade econômica global. Osborne defende que a zona do euro deve seguir "a lógica sem remorso" da união monetária em direção a uma integração fiscal maior e a uma "divisão de encargos".

"Finalmente, toda a Europa precisa se tornar mais competitiva e produtiva. Isso significa reformar os sistemas de bem-estar social, investir em infraestrutura, mais leis favoráveis à criação de empregos, uma melhor educação e menores impostos sobre os negócios", diz o artigo.

Em meio aos temores cada vez maiores de que a Grécia deixe a zona do euro, cresce também o debate sobre a vulnerabilidade do sistema financeiro europeu. Reportagem do "Wall Street Journal" mostra que mesmo depois de empréstimos de mais de 1 trilhão para centenas de bancos, há incerteza sobre como ficarão as instituições no caso de fuga de recursos.

Em apenas um dia, clientes sacaram mais de 700 milhões de bancos gregos. A preocupação, agora, é com o reflexo em outros países europeus. O chefe de pesquisa de crédito do Pimco, Philippe Bodereau, disse que, no caso de uma saída do euro, a Grécia deve restringir a saída de recursos do país, o que pode estimular saques em países como Espanha e Portugal.

"É com isso que os mercados estão começando a se preocupar. Isso leva a um nível totalmente diferente de crise de liquidez", disse Bodereau ao "Wall Street Journal".