Título: Terrenos no céu
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 22/09/2009, Política, p. 4

Hoje, Renan Calheiros e José Sarney não têm mais tanto poder assim para oferecer a Lula em termos de maioria no Senado. E, se o PT insistir em conquistar vagas no Senado em confronto com o PMDB nos estados, vai ficar pior.

Pelo andar da carruagem no Senado, o PMDB não está muito longe de chegar a 2010 com uma bancada menor do que a de hoje. Pelo menos, no que se refere ao apoio eleitoral à candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, muitos senadores do partido começam a buscar rumos diferentes.

De uns tempos para cá, o número de peemedebisas com restrições ao governo Lula ou preocupados com os palanques regionais tem aumentado. As diferenças entre PT e PMDB não ficam apenas nos senadores Jarbas Vasconcelos (PE) e Mão Santa (PI), que se diz fora do PMDB.

No Acre, por exemplo, onde o senador Tião Viana concorrerá ao governo do estado e Jorge Viana ao Senado, Geraldo Mesquita Júnior, do PMDB, já anunciou que seu candidato a presidente da República é o governador de São Paulo, José Serra. ¿Se ele for candidato, quero montar o palanque dele no estado¿, anuncia. E Marina Silva? ¿Ela continua na Frente Popular do Acre¿, diz Mesquita, certo de que Marina saiu do PT, mas não mudou de turma no estado.

Mesquita Júnior está inclusive estudando a possibilidade de deixar o partido, caso não consiga um lugar ao sol dentro do ninho peemedebista para concorrer a um mandato majoritário em 2010.

O senador Valter Pereira (MS) também não está lá muito confortável no PMDB. Ele era suplente do senador Ramez Tebet, que morreu de câncer em novembro de 2006. Desde então, Pereira assumiu, ganhou notoriedade e não vê a hora de concorrer a mais oito anos de mandato. No último 7 de setembro, num encontro com peemedebisas da cidade de Dourados, ele falou ao PMDB em tom de despedida. Mas mudou de ideia depois de garantir uma prévia para a escolha do candidato ao Senado.

Valter Pereira concorrerá internamente contra o deputado Waldemir Moka, presidente do PMDB estadual, preferido do governador André Puccinelli. Essa situação deixa o atual senador numa saia justa danada: não pode sair porque conquistou a prévia, mas não é o nome preferido do governador para uma dobradinha eleitoral.

Se todos os senadores que estudam deixar o PMDB seguissem hoje por esse caminho, os 18 peemedebisas no Senado ficariam reduzidos a, pelo menos, 15, quase o mesmo número do DEM e do PSDB, que têm, cada um, 13 senadores. Isso que não estamos falando ainda de Jarbas Vasconcelos, que ultimamente anda completamente decepcionado com o partido.

Jarbas, no entanto, não planeja sair do PMDB. ¿Minha esperança é a de que um novo governo consiga fazer a reforma eleitoral e que os partidos tenham programas e não fiquem como está o PMDB hoje¿, diz ele.

Embora a turma esteja meio receosa de ¿pedir o boné¿, a base do governo no Senado dentro do PMDB não é mais a mesma de 2003. No princípio, eram 20 senadores peemedebistas. Os dissidentes, apenas o gaúcho Pedro Simon e Jarbas. Agora, são cinco. Se eles resolverem se unir e votar em bloco, o PMDB aliado a Lula fica do tamanho do PSDB e DEM.

Hoje, Renan Calheiros e José Sarney não têm mais tanto poder assim para oferecer a Lula em termos de maioria no Senado. E, se o PT insistir em conquistar vagas de senador, em confronto com o PMDB nos estados, vai ficar pior. O PT sonha dia e noite em conquistar mais vagas no Senado. Só que o PMDB quer manter todas as suas 16 cadeiras que estarão em disputa.

Por isso já tem gente dizendo que, em relação a 2010, o que Renan tem para entregar a Lula é um terreno no céu, na lua, ou, como diz a música que ficou famosa na voz de Marina Lima, ¿tudo o que eu posso te dar é solidão com vista pro mar¿¿ E no caso de Brasília, só fica mesmo a solidão, muito longe do mar. E o mais irônico em tudo isso é que Lula, no Senado, não tem para onde correr. É pagar as prestações do terreno na lua e ficar na solidão, ou na dor de cabeça, como esta da indicação de José Antonio Toffoli para o Supremo Tribunal Federal (STF). Vai passar, mas não sem um certo barulho da oposição com a ajuda justamente dele, o PMDB.