Título: Obama pressiona Europa por crescimento
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Fonte: O Globo, 19/05/2012, Economia, p. 34

WASHINGTON, BRUXELAS, ATENAS e LONDRES. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pressionou a Europa ontem a adotar uma política econômica pró-crescimento e se afastar do receituário de austeridade como forma de combater a crise que ameaça empurrar a Grécia para fora da zona do euro e abalar a economia global. Na reunião de cúpula do G-8 (grupo dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia), Obama deixou claro que está se aliando à postura do novo presidente da França, François Hollande, que defende mais estímulos para tirar a zona do euro da recessão, em vez de apertar o cinto com austeridade, como preconiza a Alemanha.

A postura de Obama reflete sua preocupação de que um contágio da crise, que ameaça o euro, afete a frágil recuperação econômica dos EUA e suas chances de reeleição em novembro. Após encontro na Casa Branca com Hollande, Obama afirmou que os dois concordaram que lidar com a crise da zona do euro é "um tema de extraordinária importância, não apenas para as pessoas da Europa, mas igualmente para a economia mundial".

- Estamos apostando num debate frutífero logo mais à noite (ontem) e amanhã (hoje) com os demais líderes do G-8 sobre como podemos adotar uma abordagem responsável da consolidação fiscal, que se case com uma poderosa agenda de crescimento - disse Obama.

A chanceler alemã, Angela Merkel, que insiste na necessidade de uma disciplina fiscal mais rígida para reduzir os sufocantes níveis de endividamento público na zona do euro, poderá se encontrar cada vez mais isolada na reunião de cúpula, que este ano está sendo realizada em Camp David, no estado de Maryland.

No jantar de trabalho que abriu ontem o encontro do G-8, o premier britânico, David Cameron, que vem cobrando que a Europa faça mais para resolver a crise da dívida, insistiu que os líderes deverão trabalhar juntos para evitar que ela se espalhe pelo mundo, segundo um de seus conselheiros.

Não se esperam grandes decisões sobre política econômica nas conversações em Camp David, mas Obama vai pressionar por uma abordagem ampla para resolver os problemas de endividamento da Europa.

Defesa da austeridade deixa chanceler alemã isolada

Desde as eleições na Grécia, no início deste mês, que resultaram em um impasse político, os mercados globais vêm registrando sucessivas quedas por considerarem iminente a saída da Grécia da zona do euro. Isso poderia contagiar economias maiores, como Espanha e Itália. Enquanto Obama e Hollande têm alguns pontos em comum na pauta econômica da reunião, há diferenças em outras áreas, como, por exemplo, o comprometimento da França em relação à missão da Otan no Afeganistão.

Os dois líderes, no entanto, mostraram uma boa sintonia com respeito à crise do euro, que será o assunto principal da reunião do G-8. Será o primeiro encontro entre Obama e o socialista, que venceu as eleições presidenciais francesas no início do mês. Hollande disse que já conversou com seu colega americano sobre a necessidade de dar mais prioridade ao crescimento. Eles discutiram as preocupações sobre a Grécia e defendem que o país permaneça na zona do euro, disse Hollande.

O governo Obama investiu pesado para tentar conter a recessão de 2007-2009. Já Hollande defende o fim da agenda de austeridade, com ampliação de investimentos públicos em infraestrutura para a criação de empregos. O presidente francês não está sozinho. Cameron tem se tornado uma voz crítica dos líderes europeus, cobrando ações mais decisivas. O premier canadense, Stephen Harper, vem criticando os programas de austeridade, enquanto o italiano Mario Monti, antes mesmo de Hollande, já defendia o crescimento.

Isso poderá isolar Merkel, que insiste em programas de redução da dívida pública dos países do euro.

- A Alemanha está absolutamente isolada - disse Domenico Lombardi, ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), associado ao think tank Brookings Institution.