Título: Vale pé no freio em projetos de R$ 13,5 milhões
Autor: Beck, Márcio
Fonte: O Globo, 19/05/2012, Economia, p. 31

Há um ano como presidente da terceira maior mineradora do mundo, Murilo Ferreira está reavaliando a participação da Vale em pelo menos três projetos internacionais que, somados, representam investimentos de US$ 6,75 bilhões (R$ 13,5 bilhões): a mina de potássio Rio Colorado, na Argentina, a mina de ferro de Simandou, na Guiné, e dois ativos de carvão térmico na Colômbia. Ferreira descartou, ontem, a possibilidade de a Vale aumentar sua fatia, de 26,87%, na Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), que está sendo construída na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A alemã ThyssenKrupp, que controla a siderúrgica, anunciou esta semana a intenção de vendê-la.

- Não estamos vendo nenhuma possibilidade (de aumentar a participação ou comprar toda a parte da ThyssenKrupp). A Vale não é uma siderúrgica. Queremos ajudar, se for pedido, a encontrar um novo parceiro para o empreendimento - afirmou. - Não temos preferência por A, B ou C (como parceiros), mas pelo que tiver o melhor planejamento estratégico.

O planejamento estratégico também é o motivo alegado para a possível venda dos ativos de carvão térmico na Colômbia, comprados por US$ 305,8 milhões. Segundo Ferreira, que não confirmou a venda, a Vale estabeleceu como foco as operações de carvão metalúrgico:

- Na Colômbia, tínhamos um plano mais abrangente (para a mina de El Hatillo e o porto de Rio Córdoba), mas estamos abertos a possibilidades.

Em dez dias a Vale vai concluir a análise de viabilidade da mina de potássio Rio Colorado, na província argentina de Mendoza, um projeto de US$ 5,9 bilhões, para o qual está previsto desembolso de US$ 1,08 bilhão este ano. A mina tem capacidade para produzir 4,3 milhões de toneladas por ano.

- Temos interesse em ficar porque é um projeto de nível mundial. Não vamos discutir o evento político, precisamos ver as condições econômicas - afirmou, referindo-se ao clima de instabilidade após a expropriação de ativos da Repsol pelo governo Cristina Kirchner.

A Vale também enfrenta problemas na Guiné, onde opera a mina de ferro de Simandou, cuja capacidade de produção é estimada em 15 milhões de toneladas anuais. De um total previsto de US$ 2,5 bilhões, a companhia já investiu US$ 500 milhões. Segundo Ferreira, uma nova legislação, que ainda precisa ser aprovada pelo Parlamento, confere à Guiné participação de 15% no projeto, com possibilidade de mais 20% posteriormente, além de 51% de participação na operação logística e a cobrança de royalties sobre o preço do aço, e não do minério de ferro. A Vale quer aguardar as eleições parlamentares do país, em julho, para decidir o destino do projeto.

E para contornar as dificuldades com a China, seu principal cliente, a Vale vai anunciar em breve a entrada dos navios gigantes Valemax em outros portos da Ásia, afirmou o diretor-executivo de ferrosos e estratégia, José Carlos Martins:

- Estamos negociando com outros portos que possam fazer adaptações. O Valemax necessita de calado de 23 metros. Nem todos os portos têm essa capacidade, mas podem dragar.

Ferreira minimizou o risco de a empresa ser obrigada a pagar cerca de R$ 30,5 bilhões em impostos sobre operações no exterior. A Vale contesta a cobrança da Receita Federal e obteve liminar no Supremo Tribunal Federal suspendendo a necessidade de um depósito cautelar.

- Não trabalhamos com essa hipótese. Estamos confiantes de que o STF compreende a dimensão dos investimentos e da operação da Vale, e que uma medida dessa inviabilizaria investimentos. Se à frente houver uma decisão de que temos de pagar, vamos pagar. A Vale tem patrimônio suficiente para isso.