Título: Endividamento das famílias pode limitar eficácia das novas medidas
Autor: Rodrigues, Lino; Scrivano,Roberta
Fonte: O Globo, 22/05/2012, Economia, p. 22

SÃO PAULO E RIO . As novas medidas anunciadas ontem pelo governo são positivas, mas não terão o mesmo impacto que tiveram em 2008 e 2009, quando o governo usou a expansão do crédito e a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos carros para turbinar a economia. Para especialistas, o cenário atual é diferente e existe o obstáculo do alto endividamento do consumidor. O incentivo ao consumo pode armar uma bomba-relógio no futuro: o risco do aumento da inadimplência.

Segundo o economista Francisco Pessoa, da Consultoria LCA, o mercado automobilístico tem dificuldade para os bancos concederem mais crédito, em função do alto nível de inadimplência. E a capacidade de endividamento dos consumidores que bateu no teto:

- Muita gente se comprometeu com dívidas de longo prazo. A renda da população já está comprometida. Não sei se há muito espaço para crescimento do crédito. Pelo menos não na velocidade que cresceu no passado - disse ele.

Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), frisou a importância de o governo tomar medidas de incentivo à economia para tentar reverter a "performance fraca" obtida no início deste ano.

- A dificuldade hoje, porém, é a capacidade de alavancagem, que não é igual a que tínhamos em 2008. Hoje, a capacidade de consumir está restrita - disse Tingas.

O professor Armando Castelar, da UFRJ, acredita que a repetição do modelo de corte de IPI e redução dos juros de algumas linhas do BNDES podem não surtir o efeito esperado. Ele defende que medidas horizontais, como redução na burocracia e de impostos de forma linear, poderiam surtir mais efeitos.

- O governo precisava se perguntar o motivo da economia continuar patinando mesmo com juros tão baixos e rever o modelo, buscar uma forma de se incentivar o investimento - disse o professor.

Carlos Langoni, professor de economia da FGV e ex-presidente do BC, concorda que as medidas poderão gerar algum alívio de curto prazo, mas que isso não será suficiente. Em sua opinião, o governo deveria aproveitar o momento para retomar uma agenda de reforma audaciosa:

- O governo precisa incentivar o investimento. O governo poderia aproveitar o momento da economia mundial, de uma longa estagnação das economias desenvolvidas e de uma forte desaceleração dos emergentes, como a China, para votar a reforma tributária, o que teria grande apoio da sociedade - disse.