Título: No país, queda de braço entre os que produzem com e sem a fibra
Autor: Costa, Mariana Timóteo da
Fonte: O Globo, 20/05/2012, Economia, p. 40

Eternit: proibição tornará "difícil forrar casinhas de menos abastados". Brasilit nega

ÉLIO MARTINS destaca a qualidade e os preços menores do amianto

Márcia Foletto

O BRASIL SEM AMIANTO

SÃO PAULO. O Brasil é o terceiro maior produtor de amianto do mundo, com 305 mil toneladas extraídas por ano. Perde apenas para Rússia e China. Da produção da mina, 45% são exportados. Mas é no mercado interno que a disputa se dá com mais força.

- Estamos em guerra comercial - diz Élio Martins, presidente da Eternit, única empresa que extrai amianto da mina de Minaçu, em Goiás, e utiliza o produto na fabricação de 82% de suas telhas de fibrocimento - os 18% restantes das telhas fabricadas são feitas sem amianto.

No outro lado do campo de batalha, está a franco-brasileira Brasilit (Saint-Gobain), antiga sócia da Eternit que, em 1997, após a União Europeia (UE) banir o amianto, deixou de produzir telhas com o material no Brasil, desenvolvendo uma tecnologia substituta chamada PP, à base de resina plástica. O mercado das chamadas telhas de fibrocimento (com e sem amianto) movimenta cerca de R$ 1,92 bilhão anualmente no país e gera 4.570 empregos diretos - ou seja, entre quem extrai o material, fabrica as telhas e as transporta.

O faturamento da Eternit é de R$ 1 bilhão por ano e a empresa lidera o mercado de fibrocimento (32%); seguida pela Brasilit (18%) e por outras nove empresas, detentoras da outra metade do mercado. Como a Eternit é a única que tem a mina, vende a matéria-prima para as demais, que fabricam telhas com o material. Como numa guerra, Eternit e Brasilit divergem sobre a qualidade e os custos de seus produtos. Um complicador é que, ao contrário da produtora de telhas com amianto, a Brasilit não divulga dados, e seus executivos não falam com a imprensa - "para não alimentar esta batalha verbal", diz a assessoria de comunicação.

Perda de empregos estimada entre 600 e 170 mil

Enquanto Élio Martins diz que, se o amianto for proibido de vez, "ficará difícil forrar casinhas dos menos abastados", João Carlos Duarte Paes, presidente da Associação Brasileira das Indústrias e Distribuidores de Produtos de Fibrocimento (AbiFibro), que "fala em nome da Brasilit", garante que não.

- As telhas sem amianto são apenas 7%, 8% mais caras. Se o mercado demandar mais, os custos de produção caem. Além disso, a própria Eternit já fabrica telhas sem amianto e tem plenas condições de garantir, ao lado de Brasilit e outras, que não falte teto para as casinhas. Por que a Eternit insiste no amianto? - indaga Duarte Paes.

Nas lojas de materiais de construção, telhas com ou sem amianto, as mais baratas (de 4mm) custam de R$ 9,90 a R$ 13,90.

Martins rebate, afirmando que os produtos oferecidos pela Brasilit chegam a ser 30% mais caros, e que "a empresa perde dinheiro ao não repassar os custos ao consumidor, e é por isso que ela faz tanto lobby contra o amianto":

- Além disso, há a questão da qualidade, não é? Telhas de amianto duram 70 anos, estão perfeitas. Já as sem amianto precisam ser trocadas a cada 20 anos.

Segundo o presidente da AbiFibro, os fabricantes têm plenas condições de absorver a atual demanda por telhas de fibrocimento no Brasil, em torno de 250 milhões de metros quadrados de telhas por ano. Duarte Paes cita produtos à base de PVA e de PAN, fibra usada na indústria têxtil, como promissores nesse mercado.

Enquanto a Eternit afirma temer pelos empregos de até 170 mil pessoas - que dependeriam direta ou indiretamente da indústria do amianto, incluindo os trabalhadores de lojas de material de construção - a AbiFibro vê ameaça somente na perda de cerca de 600 empregos, os trabalhadores da mina.