Título: São um milhão de expostos
Autor: Almeida, Cássia; Fariello, Danilo
Fonte: O Globo, 20/05/2012, Economia, p. 41

A auditora fiscal do Trabalho Fernanda Giannasi luta pelo banimento do amianto há mais de 20 anos. Para ela, não há nível seguro de uso da fibra e os trabalhadores e a população estão expostos.

O GLOBO: A indústria diz que não há risco para os trabalhadores desde os anos 1980, com a adoção das medidas de segurança.

FERNANDA GIANNASI: Não há nível seguro de uso de uma substância cancerígena como o amianto. Ainda há o risco para o restante da cadeia produtiva, como os trabalhadores da construção civil, que não trabalham com as medidas de segurança adotadas nas fábricas.

Há 66 países que proibiram o amianto. Mas não há proibição nos Estados Unidos e Canadá. Por quê?

FERNANDA : Nos Estados Unidos, o amianto caiu em desuso em decorrência do valor altíssimos das indenizações. O Canadá exportava mais de 90% do que produziu, afirmando que o amianto não servia para os canadenses.

A indústria do amianto afirma que por trás da luta pelo banimento há, na verdade, uma guerra comercial?

FERNANDA: A luta pelo banimento do amianto vem bem antes dessa guerra comercial, quando as duas empresas, Eternit (que produz com amianto) e Brasilit (que fabrica telhas sem a fibra), ainda eram sócias.

Minaçu, onde existe a mina em atividade, depende totalmente da mineração. Como ficará a cidade sem o amianto?

FERNANDA: Minaçu tem uma dependência quase umbilical com a mineração. É preciso criar uma alternativa para cidade, para que ela não se transforme numa Bom Jesus da Serra (cidade baiana que abrigou a primeira mina no Brasil). Eles bancam tudo para criar essa dependência.

Qual a estimativa de números de expostos ao amianto no Brasil?

FERNANDA: São quatro mil trabalhadores diretos na mina e nas indústrias. Mas os expostos abrangem os operários da construção, a população do entorno das fábricas e os parentes. Assim, o número sobe para um milhão de expostos. (Cássia Almeida)