Título: Mudanças não se completam da noite para o dia
Autor: Kresch, Daniela
Fonte: O Globo, 20/05/2012, O Mundo, p. 48

O professor de sociologia política Said Sadek, da American University no Cairo, diz-se otimista quanto às eleições presidenciais. Segundo ele, nunca os egípcios estiveram tão engajados na política nacional, imbuídos da sensação de abertura política da Primavera Árabe. Sadek alerta, no entanto, que os problemas do Egito não serão solucionados com o pleito, já que revoluções demoram anos.

O GLOBO: Quais são os principais temas desta eleição?

SAID SADEK: Há muitos assuntos, a grande maioria domésticos. Não estamos interessados em questões internacionais. Toda a Primavera Árabe é sobre questões internas: corrupção, violação de direitos humanos, divisão de poder, justiça social, economia, construção de instituições democráticas. O que os egípcios se perguntam é como se democratizar e se manter assim, e se querem um Estado islâmico.

O vencedor será capaz de promover uma reconciliação nacional?

SADEK: A realidade é que será difícil para qualquer um deles. Sabemos que, depois de uma revolução como a que estamos vivendo, teremos um presidente fraco, um Parlamento fraco, uma economia fraca. Não acredito que essas questões serão resolvidas rapidamente. Talvez depois de cinco anos consigamos uma verdadeira reconciliação nacional.

Ainda há perigo de caos no país?

SADEK: Uma revolução passa por quatro estágios: a erupção, a contrarrevolução, o estabelecimento de um novo sistema político e a conservação do novo sistema. O Egito, hoje, está nos primeiros estágios. Sob Mubarak, todo o poder estava nas mãos do presidente. Agora, o objetivo é minar o poder do presidente, que vai governar só por quatro anos e poderá ser reeleito só uma vez. O poder está sendo redistribuído. Mas isso não acontece da noite para o dia.

O senhor está otimista quanto à escolha popular?

SADEK: Sim. Muita gente no Egito compara a situação com o que aconteceu com o Brasil. Depois de anos de ditadura, os brasileiros elegeram Lula, que veio do nada e se tornou o presidente do país. Por que isso não pode acontecer conosco? (D.K.)