Título: Outras obras abandonadas pela empreiteira
Autor: Maltchik, Roberto; Pereira, Paulo Celso
Fonte: O Globo, 23/05/2012, O País, p. 3

Após a sucessão de escândalos desencadeados pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, e que culminaram na CPMI do Cachoeira, a empreiteira Delta vem reduzindo o volume de contratos e sua participação no mercado de obras públicas. A empresa abandonou projetos e, em alguns casos, como o do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, foi retirada da construção.

Ainda no Rio, a construtora Delta saiu do consórcio responsável pelas obras de reforma do Maracanã, que preparam o estádio para a Copa do Mundo de 2014, e da Transcarioca, corredor expresso de ônibus que ligará a Barra da Tijuca, na Zona Oeste, à Ilha do Governador, na Zona Norte, e faz parte do projeto de mobilidade urbana para a Copa e as Olimpíadas de 2016.

A Delta, que até então integrava o consórcio que constrói o corredor expresso de ônibus no Rio, atuava no trecho entre a Barra da Tijuca e a Penha. O percurso foi orçado em R$ 798 milhões, dos quais 42% seriam pagos à construtora.

A empresa também desistiu de obras lançadas pelo governo federal. Sem qualquer alarde, a empreiteira Delta decidiu sair do consórcio para a construção de um trecho da Ferrovia Oeste-Leste, principal contrato que mantinha no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no valor de R$ 574 mil.

As notícias ruins para a Delta não param por aí. O governo já começou a avaliar a participação da construtora também no segundo maior contrato da empreiteira no PAC, a construção de um trecho de 39 quilômetros da obra de transposição do Rio São Francisco, no valor de R$ 265 milhões. Nesse caso, a Delta integra um consórcio com outras duas construtoras. O Ministério da Integração Nacional solicitou à Controladoria Geral da União (CGU) que seja promovida uma auditoria minuciosa sobre o contrato.

Apesar de o ritmo da obra ser considerado normal, o ministério quer apurar se o andamento é compatível com os valores recebidos pela construtora. Estão previstas visitas de técnicos da CGU até Mauriti, no Ceará, onde ficam os canteiros de obra, para novas medições. De acordo com dados oficiais, 16,3 quilômetros do canal já estão concretados. Isso significa 40,3% da execução prevista. No entanto, o consórcio já recebeu, até março, R$ 152,9 milhões, 57,6% do total.

A investigação sobre as obras no São Francisco deve ser concluída em junho, e, caso sejam constatadas irregularidades, o consórcio pode até ser retirado da obra - seguindo orientação da presidente Dilma Rousseff de tolerância zero com a Delta.

Também no Ceará, a prefeitura de Fortaleza anunciou a rescisão de um contrato de R$ 145 milhões com a Delta, que era responsável por obras de mobilidade urbana para a Copa do Mundo de 2014.