Título: Thomaz Bastos: Ele pode não falar nunca
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 23/05/2012, O País, p. 10

Advogado diz que Cachoeira não teria benefício algum em dizer o que sabe; defesa pede anulação de escutas telefônicas

TENTÁCULOS DA CONTRAVENÇÃO

BRASÍLIA. O bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, pediu ao Tribunal Regional Federal da 1 Região que anule as escutas telefônicas das operações Vegas e Monte Carlo, base da CPI do Cachoeira. A anulação das gravações derrubaria todas as investigações em curso contra Cachoeira e os demais integrantes da organização acusada de exploração ilegal de jogos e corrupção de parlamentares, entre outros agentes públicos.

O advogado de Cachoeira, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, alega que as escutas são ilegais porque, no transcorrer das operações Vegas e Monte Carlo, a Polícia Federal investigou o senador Demóstenes Torres (Sem partido-GO) e outros parlamentares sem autorização prévia do Supremo Tribunal Federal (STF). Essa é também a mesma linha de defesa já adotada por Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, advogado de Demóstenes.

O bicheiro, que permaneceu calado no depoimento de ontem, não tem a menor intenção de colaborar com a CPI. Se for chamado a depor novamente, Cachoeira deverá permanecer calado. Segundo Bastos, Cachoeira não teria qualquer benefício em dizer o que sabe à CPI. Algumas declarações do bicheiro poderiam ainda complicar a defesa no processo que tramita contra ele na Justiça Federal de Goiás.

- Ele pode não falar nunca, se ele quiser. É um direito que o réu tem - disse Bastos, depois de acompanhar Cachoeira no depoimento à CPI.

O bicheiro já deixou claro que também não pretende delatar cúmplices em busca de benefícios da Justiça Federal. Cachoeira é acusado de chefiar uma organização de exploração ilegal de jogos de azar e corrupção de agentes públicos. Entre os acusados de envolvimento com Cachoeira estão Demóstenes Torres e os deputados Carlos Leréia (PSDB-GO) e João Sandes Júnior (PP-GO). O bicheiro é acusado também de fraudar licitações em busca de contratos para a Delta Construções, a sexta maior empreiteira do país.

Cachoeira decidiu manter silêncio até o fim das investigações e não quer nem ouvir falar em delação premiada. Em casos assim, investigadores costumam sugerir a acusados que delatem cúmplices em troca de redução de eventuais punições.

- Delação premiada está fora de cogitação - disse Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça e hoje advogado de Cachoeira.

Expectativa com depoimento de Demóstenes

Depois do silêncio do bicheiro Carlinhos Cachoeira, ontem na CPI mista, a expectativa no Congresso agora é com o depoimento do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) no Conselho de Ética do Senado, confirmado para a próxima terça-feira. Embora o trabalho do conselho seja apenas o de processar Demóstenes por quebra de decoro parlamentar, senadores tentarão extrair dele informações sobre o esquema de Cachoeira, objeto de investigação da CPI.

A defesa do senador goiano confirmou ontem que ele prestará depoimento - será a primeira vez que Demóstenes vai se defender publicamente desde que foi iniciado o processo contra ele no Conselho de Ética -, mas reforçou a estratégia de desqualificar o trabalho da Polícia Federal, com novos pedidos de perícia técnica em provas contra ele.

Segundo Kakay, peritos contratados pela defesa constataram que partes dos diálogos gravados pela Polícia Federal sobre o pagamento de R$ 3 mil pelo aluguel de avião foram suprimidas e alteradas.

O relator Humberto Costa minimiza a importância das questões técnicas, reafirmando que o julgamento de Demóstenes no Conselho de Ética será político.( Colaborou Isabel Braga)