Título: Mantega admite pressão das montadoras
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 23/05/2012, Economia, p. 23

Sem incentivos, elas poderiam dar férias coletivas ou demitir. Ministro estuda novas medidas de estímulo para reativar a economia

EMPURRÃO OFICIAL

BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que as montadoras já ameaçavam dar férias coletivas por causa dos estoques elevados e da falta de crédito para a compra de veículos:

- O que fizemos foi um conjunto para estimular o setor automotivo e de bens de capital. O setor automotivo tem uma cadeia longa, com volume de empregos e nós não queremos que haja nenhuma demissão nem nesse nem em outros setores - disse o ministro.

Um dia depois de anunciar um pacote de R$ 2,7 bilhões para turbinar o crescimento, que incluiu a queda do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos, o ministro da Fazenda Guido Mantega adiantou que novas ações estão em estudo. Entre elas, nova redução de depósitos compulsórios dos bancos, a fim de liberar recursos para o crédito.

Ontem, já foram liberados R$ 18 bilhões para que essas instituições concedam financiamento na compra de veículos. Além disso, a equipe econômica vai mudar as regras para facilitar a migração de empréstimos de um banco para outro que ofereça menores taxas. Nesse caso, o objetivo é reduzir a inadimplência.

Uma das ações é permitir que os devedores paguem tributos de forma parcelada na hora em que trocarem de empréstimo. Hoje, segundo Mantega, esse pagamento tem de ser feito de uma única vez, o que pesa no bolso do cliente e desestimula a operação:

- A ideia é que, em vez de pagar todos os impostos no dia em que você faz a quitação, você os recolha ao longo dos pagamentos efetivamente feitos.

Outras medidas em estudo incluem desonerações de tributos para o setor de materiais de construção e também para a área de saneamento.

Ele explicou que os benefícios para o setor automotivo foram calibrados por um período de três meses - o IPI reduzido acaba em 31 agosto - porque a economia vai estar mais forte no segundo semestre, quando entrarão em vigor desonerações como a redução dos encargos sobre a folha de pagamento de 15 setores, dentro do programa Brasil Maior:

- Janeiro, fevereiro e março não foram bons meses. Abril também não. Mas maio já está melhor, e a economia vai aquecer no segundo semestre.

Mantega afirmou ainda que o Brasil está mais preparado hoje para enfrentar o agravamento da crise internacional que em 2008, quando começou a turbulência externa. Ele destacou que este é um dos piores momentos para o crescimento da economia mundial e lembrou que a maioria dos países terá em 2012 um PIB inferior ao do ano passado.

O Ministério da Fazenda reduziu oficialmente, de 4,5% para 4%, sua projeção para o crescimento da economia este ano. A nova estimativa, apresentada ontem pelo ministro Guido Mantega, durante audiência pública no Senado Federal, no entanto, ainda está muito acima das projeções do mercado. Analistas preveem alta de apenas 3,09% para o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) em 2012. Já o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, afirmou em outra audiência no Senado que o governo trabalha para que a economia cresça um pouco acima da média mundial, algo entre 2,3% e 3%.

O ministro Mantega apresentou estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) segundo o qual, em caso de agravamento da crise, os países emergentes terão uma perda de até um ponto percentual do PIB esse ano. Isso significa que, no caso do Brasil, o crescimento de 4% cairia para 3%.

Ministro descarta reajuste nos preços da gasolina

Respondendo ao tema que o levou à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), no Senado, o ministro defendeu as alterações feitas recentemente na caderneta de poupança. Elas preveem que, a partir do momento em que a taxa básica de juros atingir 8,5%, a remuneração da caderneta será de TR (Taxa Referencial) mais 70% da Selic. Segundo Mantega, as mudanças eram necessárias para permitir que o Banco Central continue reduzindo a Selic:

- Não podemos ter nenhum empecilho à queda das taxas de juros. A regra anterior se constituía nesse obstáculo. Com juros menores, você reduz a dívida pública, barateia o crédito. As dívidas ficam menores, e o poder de compra fica maior. Quem aplica na poupança, pode adquirir bens. Todas as virtudes da poupança foram mantidas (liquidez imediata, isenção do IR, remuneração mensal). Era e continua sendo uma das aplicações mais seguras para os pequenos e médios poupadores.

Guido Mantega reafirmou que, no momento, não está em estudo reajuste nos preços da gasolina. Ele explicou que a alta do dólar está sendo compensada pela queda na cotação do barril do petróleo.

COLABOROU Eliane Oliveira