Título: Salário caiu 1,2% em abril, a 1 queda desde setembro
Autor: Haidar, Daniel
Fonte: O Globo, 25/05/2012, Economia, p. 31

A taxa de desemprego voltou a cair em abril, para 6%, após um primeiro trimestre de ascensão. Diminuiu para o menor nível no mês desde 2002, segundo pesquisa do IBGE divulgada ontem. Mas a renda média real encolheu 1,2% no mês, para R$ 1.719,50, por efeito da desaceleração da economia. Foi a primeira queda desde setembro do ano passado quando tinha recuado 1,8%.

O único setor que sofreu diminuição relevante na mão de obra empregada foi a indústria, com recuo de 1,6%, para 3,7 milhões de pessoas. Houve ligeira queda no total de trabalhadores do comércio, para 4,2 milhões de pessoas. Mas, nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, a população ocupada cresceu 0,3% e somou 22,7 milhões de pessoas. A quantidade de desempregados diminuiu por consequência, para 1,5 milhão de pessoas no mês, queda de 2,5% ante março.

Cimar Azeredo, gerente da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, avalia que a renda média diminuiu principalmente em reflexo da queda do salário na indústria e na construção civil. O rendimento médio encolheu 3,8% e 3,9% respectivamente nesses dois setores da economia, para R$ 1.768,20 e R$ 1.383,40. A redução foi mais acentuada nas regiões metropolitanas de Salvador e São Paulo, onde o salário médio na indústria caiu na sequência para R$ 1608,30 e R$ 1.846,80.

- A construção está contratando gente para postos de trabalho com rendimento menor. Há uma tendência de redução na taxa de desemprego causada por um leve aumento na geração de postos de trabalho - diz Azeredo.

Freio na indústria chegou ao mercado de trabalho

O rendimento médio encolheu em todas as formas de contratação, até no mercado de trabalho informal. Só aumentou a renda de quem trabalha por conta própria, com avanço de 1,4%, para R$ 1.529,00 na média do país. No setor privado, a renda do empregado sem carteira retrocedeu 3,4%, para R$ 1.254,70. Com carteira assinada, também houve perdas, de 2,1%, para R$ 1.556.

Para especialistas, o freio na indústria no início do ano só afetou o bolso do trabalhador em abril. O economista Celso Toledo, diretor de macroeconomia da LCA Consultores, lembra que a indústria habitualmente só começa a demitir e a contratar com salários menores depois de sofrer uma queda na produção. Por isso, a diminuição na renda média do trabalhador parece reflexo da desaceleração no primeiro trimestre deste ano. No período, a produção industrial diminuiu 0,5% e só cresceu brevemente de um mês para o outro em fevereiro. Em abril, houve a primeira retração no salário da indústria desde outubro de 2011, quando encolhera 0,2%.

- Decisões de contratações ou demissões só são tomadas quando se tem certeza que o vento mudou. A reação das empresas acontece com defasagem - diz Toledo.

Para o economista, mesmo com a queda salarial, o mercado de trabalho continuou aquecido em abril, tanto que a taxa de desemprego caiu no mês. Esse cenário favorece que os preços de serviços continuem a subir acima da inflação.

- Um mercado de trabalho forte sugere que o consumo não vai cair tanto quanto a produção. Mas o desemprego baixo indica que não há muito espaço para estimular a economia sem ter inflação.