Título: Entusiastas da prática se dizem discriminados
Autor: Sarmento, Cláudia
Fonte: O Globo, 27/05/2012, O Mundo, p. 45

TÓQUIO . A campanha do prefeito de Osaka, Toru Hashimoto, contra as tatuagens, chega num momento em que elas começam a vencer o estigma histórico no Japão. Em cidades como Tóquio, mais ocidentalizadas, pequenos desenhos corporais já são vistos com naturalidade, como uma opção das novas gerações sem relação alguma com a marginalidade. Mas o sentimento que predomina ainda é a suspeita.

- Eu entendo o tabu, porque a Yakuza não presta mesmo, é muito ruim para a sociedade japonesa. Mas não se pode generalizar, e um prefeito não tem o direito de incentivar o preconceito - diz o tatuador Masaru Tomizawa, brasileiro que vive no Japão há 16 anos.

Tomizawa, 34 anos, estampou 40% do seu corpo com tatuagens. Seu estúdio na região da Nagoia tem um cartaz avisando que "o estabelecimento tem a proteção da polícia" - um recado para que os mafiosos se mantenham afastados. Ele garante que nunca teve problemas com a Yakuza e acredita que, trabalhando de forma independente, sem ligação com os lugares que atendem a máfia, está ajudando a mostrar que nem todo tatuado é um fora da lei.

Dono de jornal compara prefeito a Hitler

Dono do estúdio Graphic Tribe, em Tóquio, o tatuador Dali - um romeno que mora na capital japonesa há 16 anos - acha que já está na hora de o Japão superar os estereótipos.

- Os tabus persistirão enquanto pessoas com ideias preconcebidas continuarem decidindo e mandando. A desculpa da máfia é uma justificativa comum entre essas pessoas, mas elas só se opõem às tatuagens por inércia, sem entender por que fazem isso. Reconhecer a óbvia diferença entre um cidadão comum e um membro da Yakuza é uma questão de lógica e de mente aberta - reclama Dali.

Ele acredita que a iniciativa de Hashimoto deveria ser tratada da mesma maneira que atos públicos de racismo e discriminação, levando a uma ação na Justiça contra o político. Mas o prefeito de Osaka avisou que os 500 funcionários que ainda não responderam ao questionário sobre as tatuagens podem esquecer as promoções e correm risco de suspensão.

Entre os inimigos do prefeito está Tsuneo Watanabe, o poderoso dono do "Yomiuri Shimbun", maior jornal do Japão, que já comparou Hashimoto a Hitler. Num país cansado de autoridades sem personalidade, Hashimoto, de 42 anos, não parece preocupado. Sua popularidade, impulsionada pela cobrança de maior transparência das autoridades na esteira do desastre de Fukushima e a resistência ao religamento de usinas nucleares, é três vezes maior que a do primeiro-ministro Yoshihiko Noda. (C.S.)