Título: Ambientalistas acham que Dilma atendeu a interesses políticos
Autor: Guandeline, Leonardo
Fonte: O Globo, 26/05/2012, O País, p. 4

SÃO PAULO . Dirigentes de entidades ambientais como Greenpeace, SOS Mata Atlântica e WWF consideraram que o veto parcial da presidente Dilma Rousseff ao Código Florestal atendeu muito mais aos interesses da base aliada do governo do que às questões ambientais. Todas defendiam o veto integral ao texto que saiu da Câmara e acham que os ruralistas foram os vencedores da batalha em torno da nova lei.

Para Márcio Astrini, coordenador da campanha da Amazônia do Greenpeace, há total falta de conhecimento no Brasil sobre o verdadeiro texto aprovado pelo governo, principalmente dos ministros que participaram ontem da apresentação. Para ele, que classificou o episódio de "teatro de ministros", foram apresentadas apenas intenções. As alterações do código serão corrigidas por medidas provisórias e serão divulgadas junto com os vetos da presidente apenas na segunda-feira.

- O Brasil vai dormir e passar o fim de semana sem ter ideia do texto do seu Código Florestal. O veto parcial é horroroso, um remendo de um processo que já era ruim e foi todo construído em cima do desmatador, através de anistias e facilidades, sem diálogo algum com diversos setores da sociedade. Seria necessário o veto total para começar uma nova discussão - disse Astrini.

Já para Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas do SOS Mata Atlântica, a presidente Dilma ficou refém de sua base aliada, principalmente do PMDB. Para ela, o novo texto do Código, pelo que foi divulgado, é vago e dá brechas para uma série de ações judiciais. Além disso, ressalta, a anistia a todos os proprietários que desmataram áreas nas margens de rios antes de 2008 "está mantida".

- O texto vem cheio de pegadinhas, infelizmente. Pela rápida leitura, dá para ver que a anistia está mantida em vários pontos. O Brasil caminha na contramão da história e a presidente ficou refém de sua base aliada, principalmente do PMDB - afirmou Malu.

Carta branca

aos ruralistas

Outro ponto questionado pela coordenadora da SOS Mata Atlântica diz respeito às medidas provisórias editadas para tentar recompor o projeto aprovado no Senado.

- Você dá carta branca aos mesmos ruralistas - ressaltou.

Malu disse que o texto é vago e não deixa claro, por exemplo, a questão da recuperação de matas ciliares.

- Uma das questões que não ficou esclarecida diz respeito às faixas a serem recuperadas das matas ciliares. Não ficou claro como isso será feito, como será definido, o que leva a gente a pensar numa grave crise de escassez de água e acidentes naturais, como enchentes e deslizamentos em áreas de risco.

- O governo ratifica a estrutura que foi bancada pelos interesses do setor, no caso a bancada ruralista. A ministra Izabella (Teixeira, do Meio Ambiente) disse duas vezes na apresentação que vai fazer com que o pacote resulte no texto aprovado no Senado, que estimula o desmatamento, resgata a anistia - complementou Márcio Astrini.

A organização não governamental WWF também não ficou satisfeita com o veto parcial ao projeto aprovado na Câmara. Para a entidade, a presidente deveria ter vetado todo o texto. "Para o WWF-Brasil, apenas o veto integral ao texto possibilitaria a regulamentação da lei atual com participação real da sociedade e da comunidade científica. Sem isso, o Brasil ainda corre risco de retrocesso legislativo, pois as medidas associadas ao veto precisarão novamente do aval do Congresso, aonde ruralistas vêm tentando impor retrocessos à sociedade", diz nota divulgada pela entidade, que ainda reclama do fato de o governo não ter divulgado ontem o texto da MP nem os pontos vetados.

O presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara e ex-ministro do Meio Ambiente do governo Fernando Henrique, o deputado Zequinha Sarney (PV-MA), foi cauteloso ao comentar as mudanças. Ele disse que faltaram explicações sobre os vetos e sobre a medida provisória que será aprovada, e que a presidente Dilma Rousseff levou mais em conta "preocupações políticas" ao escolher as mudanças para não confrontar a base parlamentar no Congresso.

- A presidente Dilma cumpriu os compromissos assumidos no segundo turno (da sua eleição). Os vetos foram ao encontro de nossas preocupações. Mas gostaríamos que o veto tivesse sido total para sinalizar energia e economia de baixo consumo. O veto parcial foi feito não pelo conteúdo, mas pelas preocupações políticas de não confrontar a base do Congresso - disse Zequinha Sarney.

O deputado acabou falando apenas em nome do PV, já que uma coletiva das entidades ambientalistas foi adiada até segunda-feira, justamente por falta de explicações sobre as decisões do governo.

Perguntado se a atitude da presidente iria melhorar a imagem do Brasil na Rio+20, respondeu:

- Melhora. Pior do que está não poderia ficar. (Colaborou: Cristiane Jungblut )