Título: Após ação do governo, juros no cheque especial têm forte queda
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 26/05/2012, Economia, p. 30

BRASÍLIA. O Banco Central (BC) registrou em abril os primeiros resultados da estratégia da presidente Dilma Rousseff de usar os bancos públicos para derrubar o custo financeiro no país. A taxa do cheque especial despencou quase 11 pontos percentuais: passou de 185% para 174,1% ao ano. Os brasileiros não viam uma queda assim há quase uma década. Na média, os juros de empréstimos para pessoas físicas caíram de 44,4% para 42,1% ao ano em abril. Só nos nove primeiros dias úteis deste mês, a taxa recuou a 40,1% ao ano. Por outro lado, a inadimplência das pessoas físicas voltou a aumentar.

O nível do calote das famílias subiu de 7,4% para 7,6% no mês passado. No financiamento de veículos, os atrasos com mais de três meses foram recorde: passaram de 5,7% para 5,9%.

- Estamos atentos à inadimplência, principalmente nesse nível alto, mas a expectativa é que caia lá na frente - disse o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel, segundo o qual os atrasos acima de 90 dias sofreram apenas pequenas oscilações.

Diretor do BC vê espaço para crédito de qualidade

No início desta semana, o governo anunciou um pacote para estimular o consumo de automóveis depois de o setor reclamar de estoques encalhados. Com incentivos tributários e descontos das montadoras, a equipe econômica espera queda de 10% nos preços do veículos.

Para o BC, essa combinação de inadimplência recorde e estímulo para comprar não deverá criar novos problemas.

- Há uma lição aprendida ao longo desse período, que se traduziu em mais cautela dos bancos - afirmou Maciel, que vê os bancos mais criteriosos na hora de liberar o crédito.

No fim de 2011, o BC interveio após a inadimplência no financiamento de carros chegar a 5%. Foram criadas regras para desestimular os bancos a emprestarem. Essas travas foram retiradas para estimular novamente o consumo e manter o crescimento do país. Para Maciel, desde então, os bancos estão mais seletivos na hora de conceder crédito e há espaço para aumentar o crédito de maior qualidade e custo menor.

Em abril, os bancos começaram, enfim, a repassar a queda da taxa básica de juros (Selic) promovida pelo BC desde agosto de 2011. O spread bancário - diferença entre a taxa de captação dos empréstimos e o custo do tomador - cobrado da pessoa física caiu de 35,1 para 33,2 pontos percentuais. Desde 2009, no auge da crise financeira global, não havia uma queda tão grande.

No mês, o volume de crédito na economia chegou a 49,6% do Produto Interno Bruto (PIB) e alcançou R$ 2,1 bilhões. Nos últimos 12 meses, a expansão foi de 18,1%. A meta do BC, que poderá ser revisada no mês que vem, é de 15%.