Título: Brasil é 1º a ter grau de investimento na crise
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 23/09/2009, Economia, p. 12

Agência Moody¿s melhora nota de solvência do país e o classifica como vencedor

Apesar da crescente preocupação dos analistas com o forte aumento dos gastos públicos e quatro dias depois de o governo reduzir mais uma vez a meta de superávit primário deste ano, agora para 1,56% do Produto Interno Bruto (PIB), a Moody¿s, uma das três maiores agências de classificação de risco do planeta, elevou ontem o Brasil ao grau de investimento(1). Com isso, o país se tornou o primeiro a receber tal chancela depois do estouro da crise mundial em setembro do ano passado, um feito e tanto se levado em conta que nações como a Espanha tiveram suas notas rebaixadas devido à substancial deterioração de suas economias.

Ao anunciar sua decisão, a Moody¿s classificou o Brasil como um ¿vencedor¿, por ter superado rapidamente as turbulências provocadas pelo estouro da bolha imobiliária americana. De economia especulativa (nota Ba1), o país passou a ser visto como porto seguro para os investimentos (Baa3). Segundo o diretor da Área de Crédito para a América Latina da agência, Mauro Leos, o Brasil, ao contrário de outras economias com grau de investimento, registrou um rápido processo de recessão, com a queda do PIB nos últimos três meses de 2008 e nos três primeiros de 2009. Isso decorreu, sobretudo, da forma rápida com que o governo agiu para minimizar os impactos da crise, seja injetando recursos na economia, seja cortando impostos, como no setor automobilístico.

¿O grau de investimento reflete o reconhecimento pela Moody\\\`s de que a capacidade do país de absorver choques, incluindo a capacidade de resposta das autoridades, aponta para uma melhora significativa do perfil de crédito soberano do Brasil¿, disse Leos. Ele ressaltou ainda que, além do grau de investimento, a agência colocou a economia brasileira em perspectiva positiva. Ou seja, na opinião do ministro da Fazenda, Guido Mantega, pode haver uma melhora nas notas do Brasil nos próximos 18 meses. ¿Essa, para mim, foi a maior surpresa no anúncio da Moody¿s, que estava atrasada em relação às duas principais concorrentes¿, frisou Jankiel Santos, economista-chefe do Banco BES Investimento. A decisão da Standard & Poor¿s (S&P) saiu em 30 de abril do ano passado e a da Fitch Ratings, em 29 de maio de 2008.

Na avaliação do diretor da Moody¿s, ainda que o PIB brasileiro registre queda neste ano e as contas fiscais tenham se deteriorado em relação a anos anteriores, as perspectivas são favoráveis. Tanto que, a seu ver, com a retomada da economia e o aumento das receitas, o superávit primário voltará para 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010, contribuindo para a redução da dívida pública. Para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o ¿compromisso do governo¿ é de retomar a trajetória fiscal virtuosa em 2010. Ele disse ainda que a decisão da Moody¿s confirma que o Brasil está saindo mais forte da crise.

Dólar desaba No mesmo dia em que a Moody¿s se rendeu aos bons fundamentos do Brasil, o dólar desabou 1,59% e encerrou os negócios valendo R$ 1,794, a menor cotação em um ano. Foi a primeira vez, em 2009, que a moeda fechou o dia abaixo de R$ 1,80. No mês, acumula baixa de 5% e, no ano, de 23%. A perspectiva é de que a divisa dos EUA se mantenha em baixa, diante do aumento do fluxo de investimentos para o país.

1- Credibilidade O grau de investimento enterra de vez a imagem de caloteiro que o Brasil ostentou por décadas, depois de suspender unilateralmente o pagamento da dívida externa. Com essa chancela, o país entra definitivamente no radar dos grandes investidores, principalmente os fundos de pensão, donos de trilhões de dólares, como opção segura. O Brasil deverá atrair, agora, recursos estrangeiros de maior qualidade, direcionados para o aumento da produção e a criação de emprego. (VN)

Bovespa bate recorde no ano

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) encerrou a sessão de ontem com alta de 0,93% aos 61.493 pontos, o maior nível desde 16 de julho de 2008, e giro financeiro de R$ 5,84 bilhões. Com esse desempenho, subiu para 8,86% o ganho em setembro e para 63,76% o resultado positivo acumulado no ano. A alta no dia foi determinada por bons negócios com papéis da Petrobras, Vale e siderúrgicas, influenciada, em parte, por expectativa de recuperação da economia chinesa. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York encerrou o pregão positivo em 0,52%. A alta foi em parte consequência do anúncio do índice de atividade industrial do Federal Reserve de Richmond (uma das 12 divisões do Banco Central americano), que ficou estável em 14 pontos.