Título: Custo de Grécia deixar euro passaria de 1 tri
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Fonte: O Globo, 26/05/2012, Economia, p. 32

ROMA, BERLIM e ATENAS . A saída da Grécia da zona do euro não seria administrável e teria um custo superior a 1 trilhão, afirmou ontem o diretor-gerente do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), Charles Dallara. A projeção feita em fevereiro pela organização, que reúne os maiores bancos do mundo, segundo Dallara, "ficou velha" e "está provavelmente subestimada". Na quarta-feira, o Bundesbank, o banco central da Alemanha, afirmara em relatório que a saída da Grécia da zona do euro era perfeitamente administrável.

- Aqueles que pensam que a Europa e, mais amplamente, a economia global estão preparados para uma saída da Grécia deveriam pensar duas vezes - afirmou Dallara, que representou os bancos na reestruturação da dívida grega. - É difícil imaginar hoje como os custos não ultrapassariam 1 trilhão.

Segundo ele, a exposição do Banco Central Europeu (BCE) ao passivo grego é mais que o dobro do capital da autoridade monetária. Consequentemente, ele estima que o BCE seria incapaz de garantir a liquidez e estabilizar o setor financeiro da zona do euro.

- O BCE ficará insolvente (se a Grécia deixar o euro) - disse Dallara. - A Europa teria, em primeiro lugar, de capitalizar seu banco central.

O diretor-gerente do IIF afirmou que Espanha, Itália, Irlanda e Portugal "continuam vulneráveis às mudanças de humor do mercado". Ele fez um apelo para que os líderes europeus lembrem do contágio ocorrido após a quebra do banco americano Lehman Brothers, afirmando que o que parece um "evento administrável" pode provocar um colapso financeiro.

Ainda assim, o vice-premier belga, Didier Reynders, defendeu ontem que é um erro os governos e bancos centrais não se prepararem para uma eventual saída da Grécia da zona do euro.

Já Dallara disse ainda que a Grécia precisa de ajuda para reativar sua economia. Ele estima que, para isso, seriam necessários mais 10 bilhões. Para Dallara, essa ajuda adicional seria "um pequeno ramo de oliva", como reconhecimento de que o programa de reformas imposto ao país tem falhas.

Merkel abre uma porta para aceitar os eurobônus

A maior oposição a um novo socorro vem da chanceler alemã, Angela Merkel, mas esta vem ficando cada vez mais isolada. Como no caso dos eurobônus, abertamente defendidos pelo novo presidente francês, François Hollande, na cúpula da União Europeia (UE), na quarta-feira. Ao voltar a Berlim, a oposição alemã arrancou de Merkel a promessa de reconsiderar uma proposta para a emissão de eurobônus.

A possibilidade de o novo governo grego repudiar as medidas de austeridade tem alimentado as especulações sobre uma saída do país da zona do euro. O líder do partido de direita Nova Democracia, Antonis Samaras, inicia hoje sua campanha para as eleições de 17 de junho - e, segundo o jornal grego "Kathimerini", defenderá a suspensão dos cortes adicionais de 11 bilhões prometidos aos credores. O objetivo é enfrentar o Syriza, de extrema esquerda e contrário ao pacote de austeridade, em primeiro lugar nas pesquisas.

E o banco JPMorgan acredita que, se a Grécia deixar o euro, boa parte de seus depósitos bancários irá para a Turquia. "Os bancos turcos são considerados sólidos e fora do radar do BCE, que poderia rastrear dinheiro grego em outros países da zona do euro", afirmou o banco em relatório.

* Com agências internacionais