Título: Oposição pede à PGR investigação sobre encontro no escritório de Jobim
Autor: Lima, Maria; Celso Pereira, Paulo
Fonte: O Globo, 29/05/2012, O País, p. 4

BRASÍLIA. O já polêmico encontro do ex-presidente Lula com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes deixou a oposição em polvorosa ontem no Congresso. Em meio a discursos indignados e muito barulho no plenário do Senado, líderes do PSDB, do DEM e do PPS protocolaram na Procuradoria Geral da República (PGR) representação criminal pedindo abertura de inquérito policial para apurar se Lula incorreu em crimes de corrupção ativa, coação e tráfico de influência.

- O fato é grave, inusitado, afrontoso, ofende a consciência democrática dos brasileiros. A atitude de Lula, entretanto, não surpreende, já que nos acostumamos a vê-lo durante oito anos como advogado de defesa dos desonestos, a passar a mão na cabeça dos corruptos e ditadores mundo afora. Causa espanto, entretanto, ver o ex-presidente tentando derrotar o STF, que não foi derrotado nem mesmo pelo autoritarismo - disse o líder do PSDB, senador Álvaro Dias(PR). - Se fosse vítima de uma mentira, Lula não adotaria a estratégia de Cachoeira de ficar calado diante das indagações - completou Dias, antes da nota divulgada por Lula no início da noite.

O líder e presidente do DEM, senador José Agripino Maia (DEM-RN), confirmou ter ouvido do próprio ministro Gilmar Mendes versão idêntica à que o ministro expôs para a imprensa. Segundo Agripino, na última quarta-feira, por volta das 23h, eles se encontraram na saída de um restaurante em Brasília, e lá o ministro teria relatado o diálogo com Lula.

O encontro do ex-presidente com o ministro do STF ocorreu no dia 26 de abril ,e, coincidentemente, Gilmar também se encontrou com Agripino naquele dia, mas nessa oportunidade nada disse sobre a conversa com Lula. Antes de falar com Agripino no último dia 23, Gilmar confidenciara o diálogo ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Brito.

- É um fato gravíssimo. Quem fez o relato é um ministro do Supremo Tribunal Federal - disse Agripino.

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) acredita que a ação do ex-presidente Lula se encaixa perfeitamente no crime de coação no curso do processo:

- Chantagem é a palavra. Diria também crime de coação no curso do processo, quando alguém usa de grave ameaça para obter uma atuação favorável a si ou a terceiros de uma autoridade judicial. Foi isso que o presidente Lula fez. Ameaçou gravemente um ministro do Supremo para obter dele uma complacência no julgamento do mensalão - protestou Aloysio. - É episódio lamentável, um tremendo tiro no pé, além de crime gravíssimo. Como diria o presidente Lula, nunca se viu antes na História do país (um presidente ameaçar ministro do STF). Acho que os membros situacionistas da CPI devem se sentir insultados quando são apresentados como marionetes que ele possa movimentar a seu talante (desejo) para pressionar um ministro do Supremo.

A representação da oposição contra Lula cita artigos do Código Penal que afirmam que constitui crime usar de violência ou grave ameaça contra autoridade a fim de favorecer interesse próprio ou alheio e de intervir em processo judicial, policial ou administrativo.

- Com a representação, pretendemos passar a limpo o que realmente aconteceu - disse Agripino.

No plenário do Senado, senadores de outros partidos também mostraram perplexidade com o episódio.

- Se o presidente Lula fez aquela proposta, temos uma situação de interferência no processo judicial , o que se chama de obstrução da Justiça. Se ele não fez, temos um ministro do Supremo faltando à verdade. Esse fato, pode saber, é um fato que vai ficar na História deste país como um dos momentos negros do nosso republicanismo. Mas eu creio que tem algo mais forte ainda do que isso tudo - disse o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).

Além da representação, a Executiva Nacional do PSDB divulgou nota oficial cobrando apuração dos fatos e fazendo ligação do episódio com a CPI do Cachoeira: "O PSDB manifesta perplexidade com o esforço que vem sendo feito pelo PT no sentido de evitar que os trabalhos da CPMI que investiga denúncias envolvendo o contraventor Carlos Cachoeira alcancem pleno êxito, com independência e respeito à verdade dos fatos ".