Título: Menos vagas para pobres que estudam
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 23/09/2009, Economia, p. 13

Ipea revela que os mais escolarizados engrossam as filas de desempregados

Pochmann, do Ipea, aponta ¿fator QI¿ como dificultador para pobres

As relações sociais entre ricos e pobres ainda expõem as desigualdades do país, que premia os mais abastados em detrimento dos trabalhadores de menor renda, independentemente da escolarização. ¿Ser pobre, nas regiões metropolitanas brasileiras, é estar praticamente desempregado¿, constatou o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, que emenda: ¿É estranha a interpretação de que quanto maior a escolaridade (do trabalhador), maior é a chance de emprego, porque isso não ocorre com os mais pobres¿.

O presidente do Ipea chegou à conclusão após analisar estudo do órgão que trata da desigualdade no desemprego no Brasil metropolitano, que mostrou, por exemplo, que o contingente de pobres que estudaram 11 anos ou mais em busca de emprego é 3,7 vezes maior que o dos pobres analfabetos, que têm, ironicamente, mais facilidade de colocação no mercado de trabalho. ¿Há uma barreira, do ponto de vista da inserção, para trabalhadores pobres, apesar da escolaridade. É o chamado QI, ou quem indica. Isso não ocorre com os menos escolarizados, porque esses não dependem das relações sociais para conseguir emprego¿, avalia.

O estudo do Ipea chegou a uma outra constatação preocupante: não só os mais pobres escolarizados, mas também os não pobres que estudaram ¿ pessoas com renda per capita familiar superior a meio salário mínimo (R$ 232,5) ¿ têm engrossado as filas de desempregados. Em julho deste ano, o desemprego entre os não pobres mais escolarizados foi 2,4 vezes maior que o dos não pobres analfabetos. A pesquisa também indica uma piora nas relações de emprego e estudo nos últimos anos, apesar da diminuição da pobreza e do aumento da massa salarial de rendimentos dos trabalhadores. Em sete anos, o desemprego entre os mais escolarizados ficou maior tanto para pobres quanto para os não pobres, na comparação com os trabalhadores sem estudo.

Em julho de 2002, o contingente de trabalhadores pobres em busca de emprego e com escolarização era 1,7 vez maior que o dos pobres analfabetos, atingindo 26,2% da população desempregada. Agora, mostra o Ipea, atinge 34,5% do total. No caso dos não pobres escolarizados, o desemprego até caiu, de 6,2% da população em julho de 2002, para 4,7% no sétimo mês de 2009. Entretanto, aumentou a proporção, de 1,8 para 2,4 vsezes, do contingente dos pobres mais escolarizados ante à taxa verificada entre os não pobres analfabetos.

O número Porta fechada 2,4 vezes Proporção da falta de emprego entre pobres que estudaram em relação aos analfabetos