Título: E o PIB desmancha no ar...
Autor: Ribeiro, Fabiana; Beck, Marcio
Fonte: O Globo, 29/05/2012, Economia, p. 21

BRASÍLIA. O desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre de 2012 - que o IBGE divulgará na sexta-feira - vai reforçar a tese de que o governo dificilmente conseguirá entregar o crescimento próximo de 4% desejados pela presidente Dilma Rousseff. O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, estimou ontem que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos) brasileiro deve ter registrado expansão de apenas 0,3% a 0,5% entre janeiro e março, na comparação com o quarto trimestre de 2011. O pior cenário mostraria que a atividade não acelerou, já que entre outubro e dezembro, a expansão foi de 0,3%. Para o ano, o ministro prevê que o Brasil crescerá entre 3% e 4%, abaixo da projeção inicial do governo, de 4,5%. O mercado também reviu sua projeção para este ano, de 3,09% para 2,99%. É a primeira vez este ano que as previsões ficam abaixo de 3% e a terceira semana seguida de revisão para baixo na estimativa.

- Precisamos ter um pouco de paciência porque a economia não é um automóvel que você gira a direção, ele vira para esquerda, vira a direção, freia. É mais como um transatlântico de grande porte, você acelera e demora mais para alcançar a velocidade de cruzeiro - disse o ministro no Reuters Latin American Investment Summit.

O resultado do trimestre deve aumentar a preocupação do Planalto com o crescimento do ano, admitem integrantes da equipe econômica. Por isso, continuam em estudo não apenas novas desonerações, como a de energia e de telecomunicações, mas também a liberação de mais recursos do compulsório (dinheiro dos bancos retido no Banco Central) para aumentar a oferta de crédito no mercado doméstico. O governo também quer acelerar as concessões em setores como energia e aeroportos para impulsionar os investimentos do setor privado.

Projeção de inflação para 2012 caiu de 5,21% para 5,17%

Segundo o economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini, a economia pode até acelerar na segunda metade do ano, mas vai ficar claro que 2012 começou patinando. Ele prevê um crescimento de 0,5% para o primeiro trimestre e de 3,2% para o ano fechado. Já a Gradual Investimentos espera 0,5% de crescimento para o período de janeiro a março e de apenas 2,3% para 2012.

Para Agostini, os investimentos públicos poderiam ter um papel mais forte na atividade econômica, mas estão travados por restrições fiscais. Por isso, o governo tem agora poucos instrumentos para agir, uma vez que os incentivos ao consumo têm limitações:

- A confiança dos consumidores tem que melhorar, mas está limitada por preocupações com o cenário internacional. Além disso, o endividamento dos brasileiros já subiu bastante.

Segundo o economista da Sulamerica Investimentos Nilton Rosa, a crise na Europa e a situação mais grave da economia espanhola tiram, a cada semana, o otimismo dos analistas daqui:

- Acho que essa projeção de crescimento ainda será ajustada para baixo nas próximas semanas. Cada vez mais os indicadores mostram que a economia está andando num ritmo mais fraco.

A projeção do Focus para o crescimento em 2013 foi mantida em 4,5%. Para Rosa, é mais fácil crescer sobre uma base menor. Os economistas apostam que a economia deve se acelerar no segundo semestre por causa das medidas já adotadas de incentivo à atividade. Já a projeção para a inflação oficial - o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) - para este ano caiu de 5,21% para 5,17%.

* Com agências internacionais