Título: No Egito, Irmandade abranda tom para 2 turno
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Fonte: O Globo, 29/05/2012, O Mundo, p. 28

CAIRO . Prestes a enfrentar Ahmed Shafiq, o último premier do regime do ditador Hosni Mubarak no segundo turno da eleição presidencial no Egito, a Irmandade Muçulmana mudou o tom do discurso e partiu em busca do apoio de outras legendas. O candidato da Irmandade, Mohamed Mursi, saiu na frente com 24,4% dos votos. Nos últimos dias, ele trocou a mensagem conservadora por um discurso mais inclusivo.

- Enfrentamos um momento decisivo em nossa História, precisamos parar a farsa do antigo regime - disse, em uma entrevista à TV no sábado.

Mursi, que não era a primeira opção da Irmandade Muçulmana para concorrer à Presidência, tem tentado afastar o rótulo de "plano B". Nos últimos dias, ele tem falado em elaborar um amplo conselho presidencial e uma coalizão governamental. Ele prometeu ainda proteger os direitos da comunidade cristã copta, vista como uma importante base de apoio de Shafiq.

O partido ultraortodoxo salafista al-Nour disse que apoiará Mursi, depois de ficar ao lado de Abdel Moneim Abul Futtuh, quarto colocado no primeiro turno. A legenda tem o segundo maior bloco no Parlamento, atrás apenas do Partido Justiça e Liberdade, da Irmandade.

A disputa entre Mursi e Shafiq representa um dilema para muitos dos 50 milhões de eleitores no Egito, que temem o futuro com um regime islamistas ou o retorno de um sistema autoritário apoiado por militares.

Shafiq, ex-comandante da Força Aérea que já definiu Mubarak como "modelo de comportamento" e obteve 23,3% dos votos, é visto por simpatizantes como o homem capaz de impor segurança e reprimir os protestos prejudiciais à economia egípcia.

Insatisfeitos com as opções, cerca de 200 manifestantes participaram de um protesto em Alexandria, a segunda maior cidade do país, gritando "Não a Shafiq e à Irmandade Muçulmana. A revolução ainda está na praça". No Cairo, manifestantes atearam fogo ao escritório de campanha de Shafiq.

A votação, considerada a mais transparente no país em décadas, foi alvo de reclamações de observadores internacionais. Em relatório, o Carter Center, do ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, reclamou das restrições de acesso durante a contagem final de votos.