Título: A gente está lidando com gângsteres
Autor: Fadul, Sergio
Fonte: O Globo, 30/05/2012, O País, p. 3

BRASÍLIA. Mais cedo, ao chegar ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Gilmar Mendes fez novos ataques ao ex-presidente Lula. Chamou de "gangsterismo" e de "molecagem" a atitude de pessoas que levantaram suspeitas sobre sua viagem à Alemanha ter sido custeada por Carlinhos Cachoeira

- Não viajei em jatinho coisa nenhuma. Até trouxe para vocês (documentos) para encerrar esse negócio. Vamos parar com fofoca. A gente está lidando com gângsteres. Vamos deixar claro: estamos lidando com bandidos. Bandidos que ficam plantando essas informações - declarou, com raiva, acusando o ex-presidente Lula de centralizar a divulgação de informações falsas sobre ele.

Gilmar Mendes admitiu, no entanto, que viajou duas vezes para Goiânia em jatinhos a convite do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). A primeira foi em 2010, para um jantar. Ele teria sido acompanhado do colega Dias Toffoli e do ex-ministro do STF Nelson Jobim. A segunda viagem foi ano passado, para comparecer a uma formatura da qual era paraninfo. Toffoli e a ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça, também teriam ido. As viagens teriam sido feitas em aviões de uma empresa de táxi-aéreo chamada Voar:

- Vamos dizer que o Demóstenes me oferecesse uma carona num avião, se ele tivesse. Teria algo de anormal? Eu fui duas vezes a Goiânia a convite do Demóstenes. Uma vez com o Jobim e o Toffoli. E outra vez com o Toffoli e a ministra Fátima Nancy (Andrighi). Avião que ele colocou à disposição. Eu não estava escondendo nada. Por que esse tipo de notícia? Vamos dizer que eu tivesse pego um avião se ele tivesse me oferecido. Teria algum envolvimento com o eventual malfeito dele? Que negócio é esse? Grupo de chantagistas, bandidos, desrespeitosos.

Segundo o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, que defende Demóstenes, as despesas com os jatinhos "certamente não foram pagas por Cachoeira". Como Gilmar não divulgou as datas certas dos voos, o advogado não soube dizer quem pagou o fretamento.

Sobre a viagem à Europa, o ministro apresentou o extrato de seu cartão de crédito com despesas de empresas aéreas para mostrar que pagou uma viagem à Alemanha em abril de 2011. A primeira parte do trajeto, até Granada, na Espanha, foi paga pelos cofres públicos, porque ele iria proferir uma palestra em nome do tribunal.

A viagem completa custou R$ 16.110,61 em passagens aéreas, saindo de São Paulo até Granada. A volta foi de Berlim para SP. Foram gastos R$ 2.425 com hospedagem.