Título: Dilma recebe boletins diários da crise europeia
Autor: Beck, Martha; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 30/05/2012, Economia, p. 27

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff vem recebendo boletins diários da equipe econômica sobre as turbulências europeias e seus efeitos sobre o Brasil. Do ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem ouvido que o cenário está tão instável que a melhor estratégia no momento é aguardar fatos novos para adotar medidas a fim de blindar o país. Para um assessor da área econômica, a situação externa já é gravíssima e deve piorar com a possível saída da Grécia da zona do euro.

- O clima é de tanta incerteza que o Brasil pode mexer em alguma regra e o mercado nem perceber - disse um interlocutor da presidente.

Os técnicos continuam preparando medidas para turbinar o crescimento, o que inclui novas desonerações, aumento de oferta de crédito e medidas para reduzir a inadimplência. Mas diante da gravidade da crise externa a avaliação é que o esforço para reativar a economia tem mais chance de resultado sobre o consumo que sobre investimentos.

- O grau de instabilidade é tão alto que o empresário adiou, neste momento, todos os planos de investimento. Reduzir juros, por exemplo, tem um efeito mais restrito ao consumo, porque essa não é a variável única que faz o empresário tomar a decisão de investir - destacou um técnico da área econômica.

Além da situação da Grécia, preocupa o governo a recente corrida aos bancos na Espanha, um dos maiores investidores estrangeiros no Brasil:

- Isso pode acertar em cheio os investimentos espanhóis e europeus no mercado nacional - completou o técnico.

Ainda assim, Mantega também tem dito a Dilma Rousseff que há alguns sinais positivos na Europa, como a eleição do novo presidente francês, François Hollande, que tem visão menos fiscalista que seu antecessor, Nicolas Sarkozy. Essa visão, que ganha força em outros países da região, poderia levar a Europa a reduzir as medidas de austeridade e ampliar os estímulos à economia.

Para o ministro, por enquanto, o quadro internacional ainda é menos grave do que o de 2008, com a quebra do banco americano Lehman Brothers, que deflagrou a crise financeira global.

Segundo interlocutores, Dilma já foi preparada para o resultado ruim do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, que será divulgado pelo IBGE nesta sexta-feira. Mantega disse que o crescimento do PIB ficará entre 0,3% e 0,5% no período.

- O PIB do primeiro trimestre já está dado, mas a presidente também sabe que o resultado do segundo será melhor e que a atividade vai se acelerar - destacou um interlocutor de Dilma.

A próxima medida a ser anunciada pela equipe econômica será o parcelamento de tributos para os bancos nas operações de renegociação de dívidas para reduzir a inadimplência e incentivar o consumo.