Título: Investimento espanhol no Brasil cai 84%
Autor: Sorima Neto, João
Fonte: O Globo, 30/05/2012, Economia, p. 28

SÃO PAULO e RIO . Os investimentos diretos de empresas da Espanha no Brasil despencaram 84,2%, com o agravamento da crise financeira no país. De acordo com compilação feita pela Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), o fluxo de recursos investidos encolheu de US$ 4,699 bilhões, no primeiro quadrimestre de 2011, para US$ 738,86 milhões no mesmo período de 2012.

A queda vem após números recordes em 2011. No ano passado, o Brasil recebeu US$ 8,5 bilhões de investimento direto dos espanhóis, alta de 464% ante 2010. Para o presidente da Sobeet, Luís Afonso Lima, desde o segundo semestre de 2011, quando a crise na zona do euro se aprofundou, o fluxo de investimentos espanhois tem se reduzido. No ano passado, o número recorde seria devido ao forte impulso de uma operação da Telefónica:

- Em 2011, não se configurou uma onda de investimento espanhol no país. Tivemos uma operação específica da Telefónica, de cerca de US$ 7 bilhões, que puxou o número - disse Lima.

Em 2012, acrescentou, há grande volume de vencimentos de dívida privada de empresas espanholas no primeiro semestre, o que está levando companhias a tirarem recursos das filiais brasileiras para honrar pagamentos na Espanha. A longo prazo, porém, esse movimento tende a mudar, já que a perspectiva de crescimento econômico no Brasil é bem melhor do que na Europa. Números do censo de capitais estrangeiros no país mostram que a Espanha tem o segundo maior estoque de investimentos (US$ 85,3 bilhões), perde só para os EUA (US$ 104,7 bilhões).

A presidente Dilma Rousseff já manifestou preocupação com a crise na Espanha. Ela teme que os problemas se agravem, e afetem os planos de investimentos das companhias espanholas.

A embaixada da Espanha no Brasil informou que a redução do investimento direto pode ser atribuída à base de comparação usada: 2011 foi um ano atípico do investimento espanhol no Brasil.

Já para a diretora-executiva da Câmara Oficial Espanhola de Comércio no Brasil, Maria Luisa Castelo, o recuo pode ter ligação com o cenário de crise, mas o movimento seria temporário:

- Algumas empresas podem estar freando investimentos para aguardar o efeito das reformas lançadas desde a mudança do governo espanhol, no fim do ano passado. Mas a percepção é que as empresas espanholas continuam com prioridade e foco estratégico no Brasil. A previsão de investimentos para os próximos três anos é de R$ 44 bilhões.

Segundo dados da Câmara, o volume de investimentos das empresas espanholas no Brasil foi de R$ 164 bilhões entre 1998 e 2011. Para o professor de Economia e Finanças da Fundação Dom Cabral Rodrigo Zeidan, é possível esperar "tudo" das empresas espanholas:

- Um cenário de crise impacta como as empresas aplicam seus recursos. Podemos esperar um pouco de tudo: diminuição de investimentos, venda de participação e reforço da remessa de lucros . Podem até reforçar investimentos ao ver no mercado brasileiro a tábua de salvação.

* Colaborou Lucianne Carneiro