Título: Líder da oposição boliviana pede asilo ao Brasil
Autor: Oliveira, Eliane; Figueiredo, Janaina
Fonte: O Globo, 30/05/2012, O Mundo, p. 35

BRASÍLIA E BUENOS AIRES . O senador boliviano Roger Pinto Molina está ocupando, desde a manhã de ontem, um quarto da Embaixada do Brasil em La Paz enquanto aguarda uma resposta do governo Dilma Rousseff a seu pedido de asilo político. Pinto Molina comanda a bancada da opositora Convergência Nacional e, com mais de 20 processos contra ele abertos na Justiça, acusa o governo do presidente Evo Morales de estar usando os tribunais para persegui-lo. O porta-voz do Itamaraty, Tovar Nunes, disse que o pedido de asilo ainda está sendo analisado pelo governo brasileiro.

Pinto Molina, que segundo seus colegas no Congresso está ameaçado de morte, representa o departamento de Pando, na fronteira com o Brasil, e por isso optou pela embaixada brasileira para pedir refúgio no exterior. Sua presença na sede diplomática pegou de surpresa o embaixador Marcel Biato, que não havia sido avisado sobre tais planos.

- O senador foi de forma espontânea e surpreendeu o embaixador, que o recebeu muito bem e está respeitando todos os seus direitos - contou ao GLOBO a senadora opositora Centa Rek, que ontem esteve com Pinto Molina na embaixada.

Segundo ela, "o senador está muito bem atendido e poderia permanecer vários meses na embaixada, porque o trâmite de asilo político é demorado".

- Ele (Pinto Molina) preferiu pedir asilo na embaixada e não fugir do país - disse Centa.

O caso do senador não é uma raridade na Bolívia. Outros dirigentes da oposição com processos abertos na Justiça também optaram por sair do país ou solicitar asilo político, entre eles o líder da Convergência Nacional e ex-candidato à Presidência, Manfred Reyes Villa, que está nos Estados Unidos. Os opositores de Morales dizem ser perseguidos políticos e abandonam o país em razão do temor de serem presos.

Aliados de presidente veem ato demagógico de opositor

De acordo com a senadora opositora, todos os acusados são dirigentes que "se atreveram a investigar fatos graves que estão ocorrendo na Bolívia, como o crescimento do narcotráfico na região de Pando, mencionado por Pinto Molina em suas apresentações à Justiça".

- O governo nos acusa de desacato porque considera que nossas denúncias buscam desestabilizá-lo e esse não é nosso objetivo. O que queremos é fiscalizar - explicou Centa.

Em carta ao povo boliviano, Pinto Molina afirmou que os 20 processos que enfrenta nos tribunais de seu país são "disparatados". O senador comentou que todas as semanas é intimado para depor em diferentes cidades bolivianas. "Para cada denúncia que fiz por corrupção ou narcotráfico, foi aberto um processo por desacato contra mim. Corrupção e narcotráfico já não são delitos, agora o delito é denunciá-los", escreveu Pinto Molina.

Deputados do partido governista MAS (Movimento ao Socialismo) negaram ontem que dirigentes da oposição estejam sendo perseguidos pelo governo Morales e pediram a Pinto Molina que responda às denúncias de corrupção sobre irregularidades que o senador teria cometido quando era governador de Pando, há 12 anos.

- Pinto deve responder à Justiça. Botar a culpa no governo é um ato demagógico e político - disse o deputado Galo Bonifaz