Título: Lula Tem pessoas que não gostam de mim
Autor:
Fonte: O Globo, 31/05/2012, O País, p. 11

BRASÍLIA . Em sua primeira aparição pública desde o início da crise com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem um longo discurso em defesa de seu governo, e repleto de críticas aos adversários e à imprensa. Por recomendação médica, ele deveria discursar por apenas quinze minutos, mas acabou falando por pouco mais de uma hora. Logo na abertura do discurso, o ex-presidente deu o recado mais duro aos adversários, sem citar nomes ou os episódios recentes.

- Eu vou falar de pé porque se não, podem dizer que eu estou doente, então é para evitar esses pequenos dissabores. Vocês sabem que eu tenho muita gente que gosta de mim, mas tem algumas pessoas que não gostam. Então preciso tomar cuidado contra essas. Que são minoria, mas estão aí no pedaço - discursou Lula, convidado de honra do 5 Fórum Ministerial de Desenvolvimento, promovido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e com representantes de 36 países de África e América Latina.

O ex-presidente atacou a imprensa:

- Para ser bom jornalista não precisa ficar com a bunda na cadeira dentro de um escritório. É preciso ir para a rua para saber o que pensa o pobre. Nesse país se acostumava dizer que tinha formadores de opinião pública. Bastava colocar gravata, era formador de opinião pública. Eles não sabiam que tem gente catador de papel, presidente de cooperativa que são mais formadores de opinião do que alguns pseudossabidos que aparecem na televisão ou escrevendo em jornais - atacou, sendo aplaudido.

Lula fez referências às políticas públicas de cooperação do governo brasileiro com os governos do continente e se emocionou ao citar experiências de sua gestão. Atacou a condução das nações ricas na crise econômica e, com citações ao FMI, aos governos americano e europeus, defendeu que a saída da crise se dê através do investimento nas regiões pobres, especialmente na África:

- É a primeira vez que temos uma crise em que a solução passa por fazer os pobres serem menos pobres. O mundo rico precisa, neste momento de crise, gastar menos dinheiro para livrar a cara dos banqueiros, que são são responsáveis pela crise, e ajudar os pobres a sair da miséria extrema em que se encontram - defendeu.

Não faltaram críticas a adversários domésticos. Lula atacou os que criticam os gargalos na infraestrutura. Repleto de ironia, citou a expansão dos mercados automobilístico e aéreo:

- Aqui no Brasil tem gente que me critica por excesso de carro nas ruas. Ao invés de criticar quem não faz ruas, eles criticam o Lula, dizendo que é por causa da nossa política que eles compraram carros. E vocês não imaginam a raiva que eles ficam quando os pobres pegam avião para viajar! E viajar para o exterior ainda. Isso incomoda muito - bradou, sendo aplaudido, e completando:

- E vão ficar muito mais nervosos ainda conosco e agora com a Dilma, porque com essas políticas sociais vamos acabar com a empregada doméstica. Quando chegar nesse nível nós estaremos num país desenvolvido. E é com essa expectativa que a gente trabalha.