Título: UE oferece à Espanha mais tempo para cortar déficit, mas risco sobe
Autor: Pirlet, Sebastien
Fonte: O Globo, 31/05/2012, Economia, p. 30

BRUXELAS, MADRI e NOVA YORK . A Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia (UE), ofereceu ontem à Espanha duas possíveis tábuas de salvação: mais tempo para que o país reduza seu déficit e a permissão para que o fundo de resgate da zona do euro possa ser usado na recapitalização dos bancos, sem a necessidade de mediação do Estado. Mas isso não foi o suficiente para impedir que os mercados internacionais recuassem e que o risco-Espanha atingisse um novo recorde. A diferença entre os títulos do Tesouro espanhol de dez anos e os alemães foi de 541 pontos centesimais.

A Bolsa de Londres fechou em queda de 1,74%, enquanto Frankfurt e Paris recuaram 1,81% e 2,40%, respectivamente. Madri caiu 2,58%, e Milão, 1,79%. Em Wall Street, o índice Dow Jones perdeu 1,28%. Nasdaq e S&P caíram 1,17% e 1,43%, respectivamente.

A crise na Europa afetou ainda os preços do petróleo. Em Londres, o barril do tipo Brent recuou 3%, para US$ 103,47. Em Nova York, o tipo leve americano caiu 3,2%, a US$ 87,82.

Já o rendimento dos títulos do Tesouro americano de dez anos, os Treasuries, registrou seu menor patamar histórico: 1,62% ao ano. O papel é considerado um investimento seguro, e seu retorno cai quando a demanda é muito forte.

Bankia oferece toalha do Homem-Aranha a clientes

O comissário para Assuntos Econômicos e Monetários da UE, Olli Rehn, afirmou ontem que a Comissão Europeia está pronta para dar à Espanha mais tempo para que esta reduza seu déficit orçamentário a 3% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas, para isso, Madri precisa apresentar Orçamentos sólidos para 2013 e 2014. Em 2011, a Espanha registrou déficit de 8,9%. Este ano, o compromisso é reduzi-lo a 5,3%, chegando a 3% em 2013 - metas consideradas otimistas demais, já que o país enfrenta uma recessão.

Essa concessão, que Madri não pediu publicamente, depende de a Espanha pôr um freio nos gastos das províncias, promover reformas adicionais no setor financeiro e recapitalizar seus bancos. Essa ajuda incluiria mudanças nas regras do fundo permanente de resgate da zona do euro, que entra em vigor em julho. Hoje, ele não pode emprestar diretamente aos bancos, apenas para Estados.

Em suas recomendações econômicas anuais, a Comissão Europeia defendeu que a zona do euro caminhe em direção a uma união bancária e considere recapitalizar diretamente os bancos com o fundo de resgate permanente. Segundo a entidade, o círculo vicioso de empréstimos entre bancos fracos e países soberanos endividados precisava ser quebrado.

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, afirmou que a zona do euro deveria ter uma união bancária, com supervisão financeira conjunta e garantias de depósitos como elementos de uma união econômica mais profunda:

- Nós pretendemos olhar para outras ações que precisamos tomar em direção de uma união econômica total, para completar nossa união monetária.

O governo espanhol decidiu que o Bankia será recapitalizado por meio de emissão de títulos. O banco, nacionalizado este mês, precisa de 19 bilhões. A instituição ainda decidiu recorrer a uma estratégia inusitada para atrair novos depósitos: quem economizar 300 no mês ganha uma toalha do Homem-Aranha. E, a cada 50 depositados, o cliente concorre a uma passagem para Nova York.