Título: Líderes ainda sem consenso sobre Rio+20
Autor: Godoy , Fernanda
Fonte: O Globo, 01/06/2012, Economia, p. 26

NOVA YORK. A falta de consenso quanto à forma de adoção de metas de desenvolvimento sustentável na Rio+20 é um dos principais empecilhos à conclusão do texto que servirá de base para o documento a ser assinado por chefes de Estado e de governo no Rio. Países europeus defendem a adoção imediata de metas numéricas, o que a maioria dos diplomatas considera inviável, dada a falta de tempo. A atual rodada de negociações do rascunho zero, que vai até sábado, é a última a ser realizada na sede da ONU, em Nova York.

O embaixador Luiz Alberto Figueiredo, subsecretário do Itamaraty para o Meio Ambiente, disse ontem que o mais provável é que se chegue apenas à definição dos temas, abrindo-se um prazo até 2015 para a fixação de metas numéricas. Figueiredo, que lidera as negociações da Rio+20 na sede da ONU, em Nova York, pelo lado brasileiro, afirmou que o tempo agora é escasso para se chegar a um consenso, e que algumas definições importantes sairão apenas na reunião dos chefes de Estado, no Rio, entre 20 e 22 de junho. Até o fim da tarde de sábado, os delegados de 193 países debatem alterações no rascunho do documento a ser aprovado no Rio. Hoje, o texto tem 80 páginas, mas será submetido a novos cortes.

- Os temas que estão no texto já refletem um nível de consenso, exceto algumas posições regionais, como a dos europeus, que têm uma série de metas específicas sobre certos temas. Não há consenso sobre isso, e talvez seja difícil consegui-lo, porque o tempo não ajuda. Esse é um tema que terá dificuldades de passar, não porque se discorde das ideias, mas porque não haverá tempo para definir números aqui - disse Figueiredo.

O Brasil apoia a ideia de quantificar metas, mas discorda dos europeus quanto à maneira de fazer isso. Para o governo brasileiro, o caminho adequado é estabelecer metas numéricas dentro dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Para definir metas numéricas será preciso avaliação técnica, diz Figueiredo.

No Rio, os governantes receberão sugestões de cientistas e representantes da sociedade civil que integrarão os painéis de debate chamados de Diálogos da Sustentabilidade. Serão 30 propostas, em dez áreas, como energia, combate à pobreza, cidades e segurança alimentar.

Já está mais próxima do consenso a ideia da criação, dentro da ONU, de um Fórum do Desenvolvimento Sustentável, que cuidará da conciliação de políticas ambientais, econômicas e sociais. O embaixador reconhece, no entanto, que o financiamento da transição para uma economia verde é difícil, principalmente em época de crise econômica.